28 de março de 1886: nasce Clara Lemlich, figura fundamental na histórica Greve das 20 Mil nos EUA
Por Igor Natusch | Democracia e Mundo do Trabalho em Debate
A história sindical é repleta de mulheres significativas. Nos EUA, o nome de Clara Lemlich é guardado com respeito e admiração pelos que pesquisam a história sindical daquele país e de todo o mundo. Nascida em 28 de março de 1886, ela destacou-se como ativista, organizadora sindical e militante comunista, estando no centro dos acontecimentos em momentos importantes da luta operária em solo norte-americano.
Lemlich nasceu na cidade de Gorodok, na Ucrânia, em uma comunidade judaica na qual se falava predominantemente iídiche. Adotou o pensamento socialista ainda na adolescência, e migrou para os EUA em 1903, fugindo de um violento pogrom contra judeus em sua região. Trabalhando como costureira, teve contato direto com as péssimas condições de trabalho na indústria de Nova York, e logo engajou-se nas disputas sindicais, tornando-se destacada integrante do International Ladies’ Garment Workers’ Union. Conhecida pela coragem, a militante chegou a ser hospitalizada em dada ocasião, após ser espancada em um piquete – e, mesmo com costelas quebradas, estava de volta à linha de frente nos dias seguintes, organizando a paralisação.
A atuação de Lemlich foi decisiva na chamada Greve das 20 Mil em Nova York. Em novembro de 1909, durante uma assembleia que debatia a possibilidade de paralisação, ela exasperou-se diante dos discursos moderados dos líderes sindicais e políticos presentes. Pedindo a palavra, fez um forte discurso, declarando-se como “uma garota trabalhadora” que “não tinha mais paciência para conversar” e propondo uma moção pela greve geral. Sua fala foi recebida de forma entusiástica, e disparou uma greve que paralisou a indústria têxtil da região durante dois meses, entrando para a história sindical norte-americana.
Os resultados da greve foram positivos, mas seu papel destacado nos piquetes fez com que Clara Lemlich entrasse na lista negra da indústria. Sem trabalho, e em conflito frequente com os líderes sindicais de então, ela dedicou-se à campanha pelo voto feminino, tornando-se uma voz importante (e das mais radicais) no movimento das sufragistas. Após seu primeiro casamento, em 1913, desistiu de procurar trabalho, dedicando-se à vida doméstica. O que não quer dizer que sua militância tenha desaparecido: passou a organizar movimentos voltados a donas de casa, criando o United Council of Working Class Women e organizando boicotes de escala nacional contra a hiperinflação dos alimentos durante a Primeira Grande Guerra. Ela também engajou-se em movimentos contra o desemprego, e chegou a ter seu passaporte revogado em 1951, após uma visita à União Soviética.
Filiada ao Partido Comunista durante toda sua vida adulta, diz-se que Lemlich manteve sua disposição revolucionária até a velhice, e teria organizado até a participação da casa de idosos onde residia em boicotes contra preços inflacionados. Clara Lemlich faleceu em 12 de julho de 1982, mas segue lembrada como uma das mulheres mais importantes no movimento sindical norte-americano do século passado.
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Fonte: Democracia e Mundo do Trabalho em Debate
Data original de publicação: 27/03/2022