Com mercado formal aquecido, 7 em cada 10 autônomos desejam migrar para carteira assinada
Por Daniela Amorim, do Broadcast
O aquecimento do mercado de trabalho tem levado trabalhadores a migrarem de vagas com remunerações mais baixas para oportunidades com mais estabilidade e melhores salários. O contingente de trabalhadores atuando com carteira assinada no setor privado segue renovando recordes. Entre os que permanecem trabalhando como autônomos, a maioria deseja migrar para uma vaga com carteira: sete em cada dez trabalhadores por conta própria no País gostariam de passar a atuar com esse tipo de vínculo formal. O dado é de um quesito especial da Sondagem do Mercado de Trabalho apurada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e obtida pelo Broadcast.
“As pessoas que estão mais na informalidade, muitas vezes, estão lá muito mais pela necessidade do que pela vontade. Tem um grupo que está lá porque quer flexibilidade, porque quer independência, porque acha que esse método de trabalho é mais favorável. Mas o que a gente vê é que boa parte ainda está lá mais por uma necessidade, porque precisava de alguma ocupação, porque estava desempregado há algum tempo, e foi para esse tipo de trabalho porque era o que precisava naquele momento para ter alguma renda”, explica Rodolpho Tobler, coordenador das Sondagens Empresariais e de Indicadores de Mercado de Trabalho do Ibre/FGV.
O estudo revela que 67,7% dos trabalhadores que atuavam por conta própria no primeiro trimestre deste ano gostariam de trabalhar com carteira assinada. Esse desejo era majoritário mesmo entre os autônomos que possuíam CNPJ, ou seja, estavam formalizados: 54,6% declararam vontade de ter carteira assinada. Essa fatia desejosa pelo vínculo da carteira subia a 72,1% entre os autônomos atuando na informalidade, sem CNPJ.
“Principalmente de 2023 para cá, quando teve uma melhora mais forte do trabalho formal, a gente vê a economia reagindo, o mercado de trabalho vem reagindo também. Com essa possibilidade de emprego formal, esse grupo com certeza acaba migrando para esse tipo de trabalho”, afirma Tobler.
O total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado alcançou um ápice de 38,326 milhões de pessoas no trimestre encerrado em maio, 330 mil a mais que no trimestre imediatamente anterior, apontou a última divulgação a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O contingente de ocupados atuando por conta própria também cresceu, 40 mil a mais em um trimestre, para um total de 25,473 milhões de pessoas.
Por outro lado, algumas categorias de emprego menos atraentes perderam trabalhadores: 100 mil pessoas deixaram o trabalho doméstico sem carteira assinada, e o contingente de trabalhadores familiares auxiliares encolheu em 84 mil pessoas. O número de trabalhadores por conta própria com CNPJ também diminuiu, menos 33 mil em um trimestre, e o de empregadores com CNPJ encolheu em 52 mil.
“Geralmente o trabalho formal com carteira tem uma renda maior, mas, além disso, tem um pouco mais de estabilidade. Você tem uma previsibilidade de renda. Porque os trabalhadores por conta própria têm dificuldade de prever sua renda no próximo mês e, mesmo quando preveem, às vezes a renda varia muito. Então tem realmente alguns fatores que o trabalho com carteira traz como uma possibilidade que atrai essas pessoas, especialmente aquelas que estão no trabalho informal, com uma renda mais baixa”, completa Tobler.
Com a taxa de desemprego em 7,1%, menor nível em quase uma década, acompanhada de um aumento consistente na geração de vagas formais, a renda média do trabalho tem crescido continuamente, aproximando-se de picos históricos, mas desta vez com uma melhora disseminada, derivada da maior qualidade do emprego, aponta Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.
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O rendimento médio dos trabalhadores ocupados teve uma alta real de 1,0% em um trimestre, para R$ 3.181 no trimestre terminado em maio de 2024, maior patamar para esse período do ano de toda a série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012. O nível atual se assemelha ao pico alcançado em 2020, em meio à pandemia de covid-19, quando a crise reduziu drasticamente o número de vagas informais e de menores rendimentos, fazendo o rendimento médio subir. A elevação atual na renda do trabalho é totalmente distinta da que ocorreu na crise sanitária, porque agora há mais pessoas ganhando maiores salários.
Para o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, há alguns fatores por trás dessa alta na renda do trabalhador, como reajustes acima da inflação tanto no setor privado quanto no setor público, um maior poder de barganha dos trabalhadores em meio à elevada demanda por mão de obra e ainda um aumento na escolarização da força de trabalho.
“As pessoas que estão entrando no mercado de trabalho hoje tendem a entrar mais escolarizada do que as pessoas que estão saindo, e isso pode ter algum tipo de ganho dentro da renda”, lembrou Imaizumi, acrescentando que os ganhos salariais acima da inflação sucedem um período em que os reajustes ficaram congelados, em meio à pandemia.
Há um conjunto mais amplo de dados que atestam esse momento de mercado de trabalho forte, entre eles a alta contínua dos salários de admissão pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, apontou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
“A gente está vendo um mercado bastante aquecido, e eu diria que está no seu melhor momento. A taxa de desemprego é compatível com uma taxa de desemprego de 2015. Quando a gente ajusta a sazonalidade (desconta influências sazonais), a gente tem uma taxa ficando até um pouquinho abaixo de 7%, e isso está acontecendo com o aumento da população ocupada”, frisou Moreno. “Essa taxa de desemprego baixa do jeito que está deve manter a inflação de serviços pressionada à frente, então isso é algo que preocupa um pouco a gente”, pondera Moreno.
Fonte: InvesTalk
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Data original de publicação: 09/07/2024