Trabalhador morre após apunhalar o próprio peito em acidente em frigorífico

Reprodução

Aline Baroni

Hesley Matos, um jovem que trabalhava em um frigorífico no município de Jacundá, no sudeste do Pará, morreu de forma trágica no último dia 12. Ele cortava um boi já morto quando o animal se desprendeu do gancho onde estava pendurado e bateu no braço de Hesley, que estava segurando uma faca muito afiada. O instrumento acabou cravado em seu próprio peito e ele morreu poucos minutos depois, mesmo após ser socorrido.
O caso, apesar de chocante, não é novidade para quem conhece a triste realidade das condições trabalhistas do setor: acidentes de trabalho infelizmente são extremamente comuns.
Por exemplo, também no dia 12, um trabalhador de um frigorífico na cidade de Araguari, no Triângulo Mineiro, morreu após cair de uma altura de seis metros de altura ao tentar consertar uma máquina. Ele teve traumatismo craniano, afundamento de crânio e trauma na coluna cervical.
Há alguns dias, seis pessoas foram internadas após vazamento de amônia em frigorífico da cidade de Armazém, em Santa Catarina. E há menos de uma semana duas pessoas morreram e quatro ficaram feridas após o digestor de um frigorífico em Capanema, no sudoeste do Paraná, explodir. O digestor é uma espécie de “panela de pressão” gigante onde são cozidos os restos de animais, no caso frango, depois do abate, para a produção de ração.
Segundo dados do INSS, a criação e abate de animais foi a causa de mais de 20 mil acidentes de trabalho no Brasil em 2015 e está, junto com trabalhos como a construção civil, transporte rodoviário e atendimento médico, entre as atividades econômicas mais arriscadas para os trabalhadores. O site Causa Operária informa que dados do Centro de Vigilância Sanitária (CEVS) mostram que, em 2016, o setor foi responsável por uma morte a cada 26h no Brasil.

Uma força-tarefa realizada em 2015 pelo Ministério Público do Trabalho descobriu que, em uma unidade de abate de frango da JBS no Paraná, 52,9% dos trabalhadores tomaram remédios ou aplicaram emplastos ou compressas para poder trabalhar em um período de 12 meses. Além disso, 38% disseram sentir dor forte na realização de suas atividades e 75,4% dos trabalhadores relataram sentir frio durante a realização de suas atividades.

O trabalho é repetitivo e exaustivo. Para a desossa de frango, por exemplo, é comum que sejam feitos até 90 movimentos por minuto, e isso se repete por horas, dias e meses. Isso tudo expondo pessoas a frio, ruído, posturas inadequadas, amputações, umidade, deslocamento de carga em excesso, exposição a amônia, vasos de pressão, e jornadas exaustivas.
Não é à toa que cada vez mais sejam encontrados imigrantes haitianos e africanos e pessoas em situação de vulnerabilidade, com baixa escolaridade, exercendo essas funções. Em 2016, a pecuária foi a atividade da qual mais se resgataram trabalhadores em situação análoga à de escravo no Brasil: de 965 resgatados, 214 trabalhavam no setor. São atividades que ninguém quer realizar, e só as faz quem está em uma situação de extrema necessidade.
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Fonte: Mercy For Animals

Clique aqui para ler o texto original.

Data original de publicação: 20 de julho de 2018

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