Tráfico de mulheres é tema de audiência na Assembleia

Reunião de convidados vai destacar ativista do SobreVivendo na Turquia, canal educativo e de apoio a brasileiras vítimas do tráfico humano.

Foto: Luiz Santana

Portal da Assembleia Legislativa de Minas Gerais

O enfrentamento do tráfico de pessoas e do trabalho escravo é tema de audiência de convidados nesta quinta-feira (5/12/24), a partir das 14 horas, na Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social.

Requerida pelo deputado Betão (PT), que preside a comissão, a reunião será no Plenarinho I da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e terá participação remota de Daniele Boggione, brasileira que vive na Turquia desde o começo dos anos 2000.

Idealizadora do Canal SobreVivendo na Turquia, ela tem atuação de destaque como ativista no enfrentamento do tráfico de pessoas e do trabalho em condições análogas à escravidão, conforme destaca o deputado, razão pela qual será homenageada com votos de congratulações na audiência.

Foram ainda convidadas Priscilla Roldão Antoniazzi Trigo, diretora estadual de Políticas de Migração e de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e ao Trabalho Escravo da Sedese, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social; e Maria Teresa Barbosa Campelo de Melo, coordenadora-geral de Erradicação do Trabalho Escravo substituta do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Canal gerou rede de apoio 

Daniele Boggione viajou à Turquia aos 20 anos de idade, após se formar em Letras pela UFMG. Lá, ela conheceu seu ex-marido, teve um filho e acabou pedindo o divórcio, enfrentando ameças de perder a guarda da criança quando a família do então marido disse que ela não teria controle do menino.

Daniele Boggione iniciou então um canal no Youtube em 2012, para compartilhar suas dificuldades e vivência pessoal sobre as adversidades de ser uma imigrante brasileira naquele país.

A iniciativa despertou outras mulheres e motivou pedidos de ajuda de outras brasileiras que afirmavam estarem presas em cárcere privado matrimonial, inclusive na Europa, e o canal acabou dando origem a uma rede de apoio para brasileiras vítimas do tráfico humano.  

Em recentes depoimentos e entrevistas, Daniele Boggione relembrou ter ficado surpresa com a quantidade de e-mails recebidos de brasileiras.

“Fui, dessa maneira, apresentada à uma realidade que até então desconhecia: o tráfico de pessoas, mulheres vítimas de casamentos fraudulentos, que tinham por único objetivo explorar a brasileira para trabalho doméstico forçado no exterior, outras vezes usá-las como barriga de aluguel e, na maioria das vezes, forçá-las ao trabalho escravo sexual”, registrou ela em um de seus relatos.

A partir daí, Daniele Boggione procurou se educar sobre o assunto, começou e emitir alertas e seu trabalho, segundo ela, foi ganhando notoriedade, inclusive junto a autoridades brasileiras que trabalham no enfrentamento ao tráfico humano e que hoje colaboram com o canal.

Deputado ressalta que mulheres são vítimas principais

O deputado Betão menciona dados de 2022 da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da Faculdade de Direito da UFMG para justificar a importância da audiência. [Afinal,] a pesquisa “Avaliação de Necessidades sobre o Tráfico Internacional de Pessoas e Crimes Correlatos” demonstrou que as mulheres são as principais vítimas de tráfico para fins de exploração.

Conforme destaca Betão em seu requerimento, com base em 144 processos analisados pela pesquisa, foram identificadas pela clínica 714 vítimas, das quais 688 são mulheres (96,36%) e seis homens (0,84%). Cerca de 86% dessas vítimas são brasileiras, com o restante proveniente de países como Paraguai, Argentina, Bolívia, Haiti e Alemanha. A Espanha foi o destino mais frequente das vítimas traficadas do Brasil, sendo o país de destino em 82 processos (56,94%). 

A lista de outros países que aparecem como destinos inclui Portugal, Itália, Suíça, Suriname, Estados Unidos, Israel, Guiana, Guiana Fra cesa, Holanda e Venezuela. Além da exploração sexual, também foram registrados casos de exploração no trabalho e condições de trabalho análogo à escravidão.

Clique aqui para ler o texto original.

Data original de publicação: 04/12/2024

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