Por que nossos professores estão adoecendo?
Por Bia Giammei e Luiza Pollo|R7 Estúdio
A saúde mental dos docentes é, de longe, a principal razão de afastamento dos professores da rede pública de ensino em São Paulo; foram 53,1 mil licenças por diagnóstico de transtornos mentais em 2018 no estado.
“‘Foram tantas situações que eu enfrentei, desde dedo na minha cara, chute na porta, até ameaça de que eu ia morrer na saída. Pai de aluno ameaçando me matar, na cara de policiais. É tanta coisa, que a gente vai adoecendo.’
O relato é da professora Ana Célia Serafim Santos, de 56 anos. Diagnosticada com depressão, síndrome do pânico e transtorno bipolar, ela precisou tirar diversas licenças do trabalho como professora de Língua Portuguesa e Literatura nas redes municipal e estadual. Com a saúde mental fragilizada, não pôde mais voltar à sala de aula. Há sete anos, está readaptada em funções administrativas em ambas as escolas nas quais trabalha.
A situação de Ana Célia reflete a de dezenas de milhares de professores da rede pública de ensino em São Paulo. O número de licenças por transtornos mentais e comportamentais vem aumentando ano após ano. Somente em 2018, foram 53.162 licenças por esses diagnósticos, segundo dados do Departamento de Perícias Médicas do Estado (DPME). Esse número equivale a mais de 40% do total de afastamentos no estado.
O pano de fundo que está adoecendo nossos professores inclui acúmulo de cargos para ter um salário melhor, ambiente estressante (em alguns casos, perigoso) e sensação de falta de valorização.
‘Com o tempo, você vai vendo as coisas. É salário, é desrespeito, você sendo massacrado pelo governo, pela sociedade, pelos pais, pelos alunos’, relata Alba Valéria Santos Ferreira de Araújo (50), professora de Filosofia, readaptada na rede estadual de São Paulo depois de tirar repetidas licenças por transtornos de humor. ‘Você vai se frustrando, você vai se sentindo realmente um nada e você se sente diminuindo. Você olha pra si mesmo e quem é você? Cadê aquela pessoa que lutou para realizar um sonho?’, questiona a professora.
As principais queixas relatadas pelos sete docentes ouvidos pela equipe de reportagem – alguns pediram para não serem identificados – vão desde a falta de respeito cada vez maior dos alunos para com os professores até o grande número de alunos em sala fazendo barulho, bagunça e tornando as tarefas do professor mais pesadas. Incluem, ainda, o cansaço pelo acúmulo de cargos e o medo de ameaças dos próprios alunos e também dos pais.
Um dos momentos que mais marcaram o professor de Literatura Gilvan de Souza, 54 anos, readaptado na rede municipal, foi quando uma aluna tentou agredi-lo após ser repreendida por comer em sala de aula. ‘Depois eu fiquei sabendo que essa menina de apenas 12 anos estava grávida e a mãe não sabia’, conta o professor. A experiência, segundo ele, foi definitiva para que entrasse em depressão.
O professor Gilvan de Souza tirou diversas licenças por depressão e ansiedade, mas teve dificuldade em conseguir cuidar da saúde mental. ‘Eu busquei ajuda psiquiátrica: fui em uns três psiquiatras, não gostei do método, fui num psiquiatra do meu convênio, também não gostei’, conta. Há cinco anos, ele paga o tratamento do próprio bolso, com um profissional indicado por um amigo.”
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Fonte: R7 Estúdio
Data original de publicação: 14/10/2019