“A Classe Operária tem dois sexos – trabalho, dominação e resistência” de Elisabeth Souza-Lobo | Download gratuito
Por Editora Expressão Popular
“Assim, enquanto o feminismo liberal insistia na emancipação das mulheres, o feminismo socialista tinha como eixo a participação política das mulheres trabalhadoras” (Elizabeth S. Lobo)
Esta terceira edição comemorativa dos 30 anos de A classe operária tem dois sexos – trabalho, dominação e resistência, publicada pela Fundação Perseu Abramo em parceria com a Expressão Popular, evidencia o pioneirismo de Elisabeth Souza Lobo Garcia na introdução de pesquisas comparativas entre trabalho feminino e masculino, na trilha criada por Heleieth Safiotti (1979) e Eva Blay (1978) que destruíram a aparente visão homogênea dos estudos sobre a classe trabalhadora, até os anos 1970, com análises inovadoras sobre a condição feminina e o trabalho das mulheres. Esta coletânea de artigos e ensaios teóricos de Elisabeth Lobo sobre a mulher brasileira no mundo do trabalho no período dos anos 1980, teve sua primeira edição, como obra póstuma, no final de 1991, quando a socióloga pesquisou as transformações econômicas, sociais e políticas da classe trabalhadora na região industrial do ABC paulista, com enfoque para a desnaturalização da divisão sexual do trabalho, como face da exploração feminina na linha de montagem e da diferenciação da participação da mulher na luta sindical.
A obra foi organizada por Beth Lobo em torno de três grandes temas: estudos sobre a sociologia do trabalho; reflexões sobre questões metodológicas; e análises sobre as mulheres nos movimentos sociais. Em 2011, a Fundação Perseu Abramo publicou a segunda edição, com uma longa apresentação de Helena Hirata, Leila Blass e Vera Soares com a contextualização da produção intelectual da autora, na qual demonstram que, interessada em compreender as formas de resistência à dominação, de enfrentamento da passividade, Elisabeth criou uma reflexão original para analisar as respostas dos dominados, capaz de vislumbrar nas práticas cotidianas de operários e operárias elementos de ampla transformação social.
A Fundação Perseu Abramo e a Expressão Popular, nessa edição comemorativa dos 30 anos de A classe operária tem dois sexos, prestam homenagem às companheiras que, no exercício da pesquisa social e popular tiveram suas vidas ceifadas: à Elisabeth Lobo, que nos legou uma visão do feminismo na perspectiva da classe trabalhadora, e Maria da Penha Nascimento Silva, que nos legou o necessário trabalho de base e a dedicação em construir nos mais longínquos rincões, a organização popular.
Trecho da autora
“A história do movimento de mulheres não é uma história linear. Os primeiros passos das mulheres foram dados em busca de sua emancipação como cidadãs: a luta pelo voto, por igualdade na educação, por igualdade civil. Paralelamente ao feminismo liberal, um feminismo de classe, estreitamente vinculado ao movimento e aos partidos socialistas, toma corpo na Europa. As operárias, feministas da época denunciaram, é certo, as condições de exploração da força de trabalho feminina: os baixos salários, a opressão sexista exercida pelos patrões, mas não se restringiram a isso. Também lutaram contra os sindicatos que discriminavam as mulheres e contra a opressão na família operária. Essas denúncias, no entanto, foram silenciadas – desde 1880 – em nome da tese de que a opressão das mulheres é produto da sociedade e de que, por conseguinte, a revolução social significará automaticamente o fim da sua opressão1 . Assim, enquanto o feminismo liberal insistia na emancipação das mulheres, o feminismo socialista tinha como eixo a participação política das mulheres trabalhadoras”. (Elisabeth Lobo, A classe operária tem dois sexos)
Trechos da apresentação
“Os ângulos e campos temáticos em que se situava a reflexão de Elisabeth foram por ela mesma claramente resumidos num pequeno texto de apresentação de seu programa de ensino para 1991: (…) fazer uma reconstrução de temas clássicos e novos nos estudos sobre classes trabalhadoras e localizar esta releitura na produção brasileira sobre trabalhadores e trabalhadoras, movimento e lutas operárias na década de 1980 em São Paulo. O fio condutor dessa reflexão é a construção da problemática operária, em suas configurações e metamorfoses, a partir de questões que interpelam a história operária, em particular sua história recente. Para Elisabeth o argumento de que se produziu uma experiência particular de trabalhadores e trabalhadoras em São Paulo a partir da década de 1970 obriga a refazer o percurso das problemáticas que balizaram a análise das práticas e representações, das continuidades e rupturas, dos discursos e personagens através dos quais se construiu o objeto movimento operário, no período”. (Leila Blass, Helena Hirata, Vera Soares, Apresentação)
“Nos anos 1960 e 1970 há (re)aparecimento do movimento feminista, denominado “a segunda onda do feminismo” tanto nos países da Europa, nos Estados Unidos, como nos países abaixo do Equador. Este movimento centrara parte do seu debate sobre o significado do trabalho doméstico, criando uma palavra de ordem − trabalho doméstico é trabalho, e indagando a própria noção moderna de trabalho. O feminismo, deste modo, com suas inquietações e reflexões, influenciou a produção acadêmica contribuindo a tornar visível o trabalho das mulheres e as relações de poder entre os sexos. Na França, em particular, este debate tomou corpo com pesquisadoras feministas, como Danièle Kergoat e sua equipe, que realizaram estudos inovadores sobre as operárias, o trabalho e as reivindicações. Elisabeth Lobo desenvolveu, simultaneamente, durante toda a década de 1980, pesquisas similares sobre as operárias brasileiras, o processo de trabalho e a divisão sexual do trabalho nos estabelecimentos industriais do ABC paulista, a participação das mulheres nas lutas sindicais. Na mesma linha de Danièle Kergoat, na França, mas a partir de trabalho de campo no Brasil, Beth mostrou que “a classe operária tem dois sexos”, que “operário não é igual a operária”. (Leila Blass, Helena Hirata, Vera Soares, Apresentação)
“Acreditamos, entretanto que as teorias atuais que têm maior proximidade com o universo teórico de Beth são as teorias da intersecionalidade de Kimberlé Crenshaw (2002) e a teoria da consubstancialidade ou coextensividade de Danièle Kergoat (2009). As duas autoras postulam a “interseção” ou a “imbricação” de classe, sexo, raça, sem estabelecer hierarquias. Para Danièle Kergoat, trata-se de um enfoque privilegiado para se pensar a dinâmica das relações sociais. As relações de classe e de sexo foram tradicionalmente tratadas conjuntamente, a incorporação da dimensão racial é mais recente e influenciada pelas teóricas do “blackfeminism”. No Brasil, a consideração da dimensão raça pelas pesquisadoras feministas foi bem anterior à França (Gonzalez, 1982, 1983), mas aparece marginalmente na obra de Elisabeth Lobo” (Leila Blass, Helena Hirata, Vera Soares, Prefácio à 2 edição, 2010).
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Fonte: Editora Expressão Popular