Acidentes de trabalho com adolescentes: compreendendo as consequências aos jovens trabalhadores
Por Juliana Cunha
O desenvolvimento das pessoas envolve aspectos psíquicos e físicos, bem como sociais e culturais, segundo a perspectiva socio-histórica. A adolescência configura-se como período importante no desenvolvimento do indivíduo, determinante para a qualidade da vida adulta. Neste sentido, a relevância do presente estudo que trata do tema acidente de trabalho com menores de 18 anos.
O acidente de trabalho atinge milhares de trabalhadores diariamente, causando muitas vezes incapacidade temporária ou permanente, ou mesmo a morte. Por esta razão, o acidente de trabalho ocorrido com adolescentes é foco de atenção na Saúde Pública. Para os adolescentes trabalhadores a dimensão negativa do trabalho no modo de produção capitalista, pode ser ainda mais danosa, visto que as oportunidades de trabalho não levam em conta os aspectos do desenvolvimento infanto-juvenil.
Assim, realizou-se a presente pesquisa com o objetivo de compreender a vivência de adolescentes trabalhadores que sofreram acidente de trabalho em empresas do município de Piracicaba. A pesquisa caracterizou-se como estudo de caso de abordagem qualitativa, ancorado na perspectiva teórico metodológica da Psicologia Socio-Histórica.
A pesquisa iniciou-se com uma fase exploratória de contextualização, realizando análise global de dados com acidentes de trabalho ocorridos de 2010 a 2016, envolvendo menores de 18 anos, os quais foram notificados por unidades de saúde sentinela no Sistema de Vigilância em Acidente de Trabalho de Piracicaba.
A segunda etapa consistiu na realização de estudo de aprofundamento do problema, realizando-se entrevistas individuais com quatro adolescentes, para compreender os impactos do acidente de trabalho em suas vidas. Constatou-se que foram notificados no período estudado o total de 67.839 acidentes de trabalho no município e 981 deles envolveu adolescentes trabalhadores, com 136 dos acidentes lesões graves ou moderadas.
Nos anos de 2015 e 2016, a atividade econômica com maior número de ocorrências para os adolescentes foi o comércio. A análise das entrevistas conduziu a dois núcleos temáticos:
1) o acidente, o qual é abordado pelas dimensões: a) atividade realizada no momento da ocorrência; b) possíveis causas que levaram à ocorrência do acidente de trabalho como: não ser a atividade habitual, sobrecarga e imprevisto; c) cuidados imediatos: primeiros cuidados e atendimento em serviço de saúde; d) consequências: imediatas/temporárias, médio prazo e de longo prazo; e) sentimentos relacionados ao acidente: impotência, dor, medo, raiva;
2) o trabalho, compreendido a partir de: a) motivos para trabalhar; b) condições de trabalho; c) futuro, conforme desejos do momento atual; d) estudo concorrente com o trabalho. O acidente de trabalho levou a um afastamento do trabalho e da escola, trouxe sentimentos negativos, acarretando em marcas físicas e psicológicas.
O evento ocorreu por fatores multicausais, destacando-se na situação dos entrevistados as inserções e condições laborais precárias. A situação do acidente de trabalho com jovens revelou-se semelhante a ocorrência com trabalhadores adultos. O trabalho dos jovens, não respeitou as necessidades específicas desta fase de vida e não propiciou condições para o pleno desenvolvimento ao prejudicar sua atividade criadora, a saúde física e mental.
Conclui-se, que há necessidade de mobilização social para proteger os adolescentes da lógica capitalista adoecedora, propiciando inserções que conduzam a um desenvolvimento e amadurecimento saudável, orientadas por atividades com possibilidade de fluidez da criatividade.
Fonte: Rede de Estudos e Monitoramento Interdisciplinar da Reforma Trabalhista
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Ano de publicação: 2018