Artigos abordam relações de trabalho e adoecimento no serviço público
Por FUNDACENTRO
Data original de publicação: 14/08/2024
Duas publicações do Dossiê “Epidemiologia, Saúde e Trabalho” da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) trazem estudos sobre relações de trabalho e adoecimento no serviço público, ambos utilizando escalas adaptadas ao contexto brasileiro.
O artigo Adaptação transcultural e validação da escala “indicadora de trabalho-vida” (work-life indicator) para uso no Brasil: Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) propõe adaptação da escala indicadora de trabalho-vida (work-life indicator) ao contexto brasileiro. Por meio de variáveis observáveis, a ferramenta permite mensurar e avaliar interferências da vida profissional na vida pessoal e vice-versa no cenário nacional e seu impacto na saúde de trabalhadores.
As últimas décadas trouxeram muitas modificações das relações de trabalho e de composição familiar. A participação cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho acumulando responsabilidades domésticas, o aumento de outras formas de composição familiar para além da tradicional (pai, mãe e filhos) ou os avanços tecnológicos que permitem trabalhar em qualquer local e horários tornaram as fronteiras entre vida profissional e pessoal mais turvas.
Essa realidade trouxe à tona a ausência de gerenciamento dos limites entre trabalho e vida pessoal que, como apontam os autores, pode estar diretamente associada a problemas de saúde e ao burnout.
A partir desse contexto, que reforça a necessidade de estudar a interface trabalho profissional-trabalho doméstico, emerge a necessidade de adaptar o instrumento à realidade brasileira trazida pelo estudo.
A pesquisa contou com mais de 7 mil participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) e teve duas etapas. A primeira, de adaptação transcultural, realizou análises de equivalências conceitual, de itens e da semântica para uma adequada adaptação transcultural para o contexto brasileiro. A segunda, de validade dimensional, aplicou a escala em um estudo epidemiológico, para a aferição das propriedades psicométricas da versão brasileira proposta.
Desequilíbrio Esforço-Recompensa
Também utilizando Elsa-Brasil em estudo com mais de nove mil servidores públicos de seis cidades diferentes, o artigo O desequilíbrio esforço-recompensa está associado à hipertensão arterial entre servidores públicos brasileiros? Resultados do ELSA-Brasil identificou que o estresse no trabalho está associado ao aumento nas chances de hipertensão arterial.
O estresse no trabalho é um dos fatores de maior prejuízo à saúde do trabalhador, estando associado a maior risco de doenças cardiovasculares e de hipertensão arterial. No estudo, foi mensurado pela versão brasileira da escala de desequilíbrio esforço-recompensa, que contempla as dimensões esforço, recompensa e excesso de comprometimento.
Embora a hipertensão arterial esteja relacionada tanto ao desequilíbrio esforço-recompensa decorrente de altos esforços em contraponto a recompensas insatisfatórias, quanto ao excesso de Comprometimento, os autores ressaltam que a associação com esses fatores se dá de forma independente um do outro.
A investigação reforça uma situação de desequilíbrio em que o esforço do trabalhador é maior do que a recompensa recebida, gerando frustrações e sentimento de injustiça. Essa realidade contribui para o aumento do estresse e potencializa prejuízos à saúde cardiovascular dos trabalhadores. Nesse sentido, o artigo oferece subsídios para políticas de saúde pública e intervenções preventivas em saúde cardiovascular.
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