Boris Cyrulnik: “A desigualdade social começa nos mil primeiros dias de vida”
Por Marc Bassets|El País
” Há muitas maneiras de apresentar Boris Cyrulnik. É o neuropsiquiatra que popularizou o conceito de resiliência, a capacidade de superar as adversidades. É o autor de numerosos livros que aproximaram do público das chaves de sua disciplina, alguns lançados no Brasil, como Autobiografia de um Espantalho. É um homem de 82 anos marcado pelo Holocausto e a Segunda Guerra Mundial. E é quem inspirou o presidente francês, Emmanuel Macron, em suas políticas sobre a educação pré-escolar e a escolaridade obrigatória aos três anos de idade.”
Confira abaixo alguns trechos da entrevista
Pergunta. Tudo se define nos seis primeiros anos, antes da educação primária?
Resposta. Nem tudo. Se a pessoa fracassa nestes anos, ainda pode se recuperar. Eu não fui à escola. Mas são anos em que a aprendizagem é fulgurante e fácil: as crianças aprendem a toda velocidade porque os neurônios estão em ebulição. Depois, pode-se continuar aprendendo, mas menos rápido.
P. O que pode dar errado nesses anos?
R. Macron disse que todos os franceses deveriam ir à escola infantil aos três anos de idade. Tinha constatado que 93% dos meninos e meninas já iam à escola a essa idade, mas não os filhos de pais infelizes ou com dificuldades sociais, o que agravava a desigualdade.
P. Quais as consequências dessa desigualdade na raiz?
R. Hoje em dia, a sociedade seleciona por meio da escola e do diploma: é a nova aristocracia. Já não é a aristocracia da força física nem a dos bens ou das fábricas, que ainda existe, mas é menos importante. A nova aristocracia é a do diploma. A partir dos três anos, as crianças que estiveram bem acolhidas com antecedência serão os bons alunos, e as crianças mal acolhidas acumularão tamanho atraso na linguagem que serão maus alunos, não terão diplomas e terão dificuldades sociais, culturais, afetivas…
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Fonte: El País
Data original de publicação: 12/02/2020