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Por Hugo Dias | Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (CESIT)

A nova Edição da Carta Social e do Trabalho, que tenho o grato prazer de fazer a sua apresentação, inaugura uma fase nova da sua existência. O seu número atual é já o resultado da decisão tomada de tornar a Carta numa Revista dinamizada por estudantes da Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico – Área de Concentração em Economia Social e do Trabalho – do Instituto de Economia da Unicamp e vocacionada para a publicação de trabalhos acadêmicos de pós-graduando/as.

O seu fio condutor, no entanto, não mudou. Tem como principal propósito a publicação de artigos que tenham no centro de suas análises as temáticas que dão corpo aos campos da Economia Social (desigualdades sociais, pobreza, estrutura social, políticas sociais, sistemas de proteção social, economia solidária e o desenvolvimento humano) e da Economia do Trabalho (estrutura ocupacional, desemprego, rendimentos do trabalho, relações de trabalho, políticas de emprego, movimento sindical, legislação trabalhista e a negociação coletiva). O Número 43 oferece ao/à leitor(a) seis artigos que abordam algumas das temáticas fundamentais da Economia Social e da Economia do Trabalho, num contexto de grave crise econômica e social, ainda agravada pelo cenário pandêmico.

O primeiro artigo, “Você não estava aqui” (Sorry We Missed You, 2019): A arte cinematográfica expondo os conflitos socioprofissionais e identitários dos trabalhadores plataformizados”, de autoria de Andressa Brito Vieira e Evelyn Yamashita Biasi, realiza uma resenha crítica do aclamado filme do realizador britânico Ken Loach. Conforme as autoras apontam, este filme, na esteira de obras anteriores do autor, devota um olhar atento e sensível ao modo como a questão do trabalho, e da emergência de formas cada vez mais precarizadas e mal remuneradas deste, impactam as diversas dimensões da vida dos trabalhadores, desde as suas subjetividades até à forma como organizam os seus modos de vida.

O segundo artigo, de Cyro Luiz Faccin de Souza e João Victor Paulo Teixeira, e intitulado “A homogeneização da diferenciação individual: o fenômeno da uberização no mundo do trabalho”, segue no sentido da análise das transformações mais recentes e, partindo de um olhar influenciado por David Foster Wallace e Harry Braverman, desenvolve um escrutínio aprofundado da retórica da “uberização” e de como esta, longe de proporcionar autonomia e liberdade para o trabalhador, recobre processos de homogeneização e desqualificação.

O terceiro artigo centra a sua atenção no Brasil e nas transformações ocorridas na regulação do trabalho, a partir da reforma trabalhista de 2017. Em “Do coletivo para o indivíduo: a desconstrução dos direitos do trabalho no Brasil”, Rosângela Ribeiro Gil recupera o debate em torno do argumentário econômico utilizado em defesa da reforma e de como, longe de se concretizarem as promessas de crescimento econômico e de geração de emprego, esta aprofundou sobretudo a insegurança econômica e social de milhões de trabalhadores.

Ainda no terreno do debate sobre a reforma trabalhista, Thaís Alegri e Maryanna Nascimento, trazem-nos um recorte de gênero sobre os seus impactos. Em “Reforma trabalhista e a intensificação da exploração do trabalho feminino”, quarto artigo deste número da Carta, as autoras argumentam que as mudanças trazidas pela reforma, causam um duplo agravamento da situação da mulher, seja pelo aumento generalizado da precarização do trabalho e redução dos direitos trabalhistas, seja pela fragilização de sua inserção no mercado de trabalho associada ao seu papel dentro da esfera doméstica.

O quinto artigo, de autoria de Taís Dias de Moraes, mantendo o olhar de gênero, aborda a “Inserção no mercado de trabalho das mulheres chefes de família como uma das causas da feminização da pobreza”. Ao longo do texto a autora argumenta que a inserção mais vulnerável da mulher no mercado de trabalho e a sobrecarga com atividades domésticas, sobretudo nos Domicílios Chefiados por Mulheres (DCM), são causas diretas da feminização da pobreza e da sua transmissão intergeracional.

Por fim, no sexto e último artigo, intitulado “A assistência social na interface com políticas voltadas ao mercado de trabalho: marcos, trajetória e dilemas”, Vinícius Saldanha de Jesus faz uma incursão sobre a desejável interligação entre estes dois perfis de política pública. No entanto, aponta para dois fatos: se por um lado, embora essa interface seja importante, não deveria recair sobre a Assistência Social a responsabilidade principal pelas políticas de inserção no mercado de trabalho; por outro, dadas as transformações mais recentes na esfera produtiva e do trabalho, urge desenvolver formas que garantam condições dignas de sobrevivência para além da inserção laboral.

Baixe a edição 43 da Carta Social e do Trabalho

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Fonte: CESIT

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