Crowdwork, a terceirização online

Imagem: Unsplash

Por Renan Kalil | Carta Capital

“O debate sobre o trabalho via plataformas digitais no Brasil geralmente fala dos setores de transporte de passageiros e de entregas. Isso ocorre por dois motivos. O primeiro é a existência de uma quantidade expressiva de trabalhadores nesses setores: 1 milhão de motoristas e entregadores trabalham para somente uma empresa, a Uber.

O segundo é a visibilidade dessas atividades: esses trabalhadores estão nas ruas e, durante a pandemia, as más condições de trabalho a que estão submetidos foram colocadas no centro das discussões, especialmente a partir de manifestações como o Breque dos Apps.

O trabalho via plataformas digitais, entretanto, também existe em outros setores e sob outras formas. Uma de suas expressões, ainda pouco conhecida no Brasil é o crowdwork (ou trabalho-de-multidão, em uma tradução literal).

No crowdwork, pessoas contratadas via plataforma digital executam tarefas online para empresas ou outros indivíduos. Também é chamado de terceirização online.

Empregadores transferem uma atividade anteriormente executada por funcionários para uma grande e indefinida rede de trabalhadores. Essa fragmentação nega aos trabalhadores a chance de enxergar o processo produtivo do qual são parte, de perceberam sua a contribuição dada a um produto ou serviço e de estabelecerem valor ao que fazem.

Os três principais atores das relações no crowdwork são os solicitantes, as empresas donas da plataforma digital e os trabalhadores. Como regra geral, o conteúdo do trabalho é determinado pelos dois primeiros. Os trabalhadores são contratados como autônomos.

Os tipos de trabalho mais comuns no crowdwork tem a ver com projetos ou microtarefas. Os primeiros abrangem atividades de alta ou média complexidade, cuja duração pode chegar a meses. Nesses casos, os solicitantes escolhem um trabalhador para realizar uma determinada atividade em um certo período, negociando o valor da remuneração. Os segundos executam tarefas simples, que duram segundos ou minutos. A seleção dos trabalhadores é feita por ordem de chegada.

A maior demanda é pelas microtarefas. Suas principais categorias são busca por informações (procurar dados na internet, como o endereço de um estabelecimento), verificação e validação (conferir a veracidade de um perfil em uma rede social), interpretação e análise (classificar de produtos vendidos por uma empresa) e criar conteúdo (resumir um documento ou transcrever uma gravação de áudio).

Parcela expressiva das microtarefas se relacionam com o chamado trabalho cultural. Os trabalhadores geram informações “treinadas” e customizadas, que ensinam algoritmos a combinar e compreender padrões produzidos por seres humanos. As empresas de tecnologia precisam desses trabalhadores, pois os computadores não têm as referências culturais necessárias para interpretar linguagem, imagem e sons.

Conforme os seres humanos vão realizando essas atividades e “treinam” as tecnologias, as capacidades de inteligência artificial avançam. É um ciclo virtuoso para as empresas de tecnologia. Diversos autores chamam essas tarefas feitas por seres humanos de “trabalho fantasma”, “trabalho escondido” e “atrás das cortinas”, o que evidencia a sua invisibilidade. (…)”

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Fonte: Carta Capital

Data original da publicação: 06/04/2021

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