Da violência doméstica ao desemprego, coronavírus é mais cruel com mulheres.
Por Juliana de Faria| Uol
“Mulheres e meninas estão enfrentando um severo aumento da violência doméstica e sexual, em decorrência do isolamento social – em quatro dias de confinamento, houve um aumento de 50% dos casos no RJ. Os serviços garantidos por lei lhes faltam a esta hora – em São Paulo, nas primeiras semanas de isolamento, os abortos legais foram postergados. Mulheres em trabalho de parto precisam parir sem acompanhante, e com acesso a serviços médicos ainda mais restritos, aumentando as taxas de mortalidade materna – todos os dias, aproximadamente 830 mulheres morrem por causas evitáveis relacionadas à gestação e ao parto no mundo.
No âmbito financeiro, vislumbram dificuldades com renda e desemprego, sendo maioria em ocupações informais mal remuneradas (71% das empregadas domésticas não têm carteira assinada, portanto estão descobertas pela legislação em momentos de calamidade como agora). Vivem a sobrecarga com os cuidados domésticos e dos filhos. E, agora, dos doentes não hospitalizados.
Um cenário de pandemia traz medo, confusão, insegurança e desamparo a todos os que o vivenciam. Mas não se deixem enganar: as consequências geradas pela Covid-19 recairão prioritariamente sobre as mulheres, sobretudo aquelas em maior situação de vulnerabilidade.
Infelizmente, conceitos como equidade, segurança, autonomia e independência femininas, que se manifestaram em tantas ações e projetos nos últimos anos no Brasil, estão sendo descartados rapidamente como questões supérfluas diante da crise sanitária. O momento pede, de fato, foco para que a sociedade consiga conter mortes e infecções causadas diretamente pelo novo vírus. Só que agora, mais do que nunca, é urgente exigirmos uma consciência ampla do impacto agressivo – e de longo prazo – que uma pandemia trará.”
Fonte: Uol
Data original de publicação: 18/04/2020