‘Durmo no terraço para não infectar minha mãe’, diz técnico em enfermagem que ganha R$ 80 por plantão de 12 horas
Por Juliana Gragnani | BBC News
“Às vezes, ele tem vontade de dar um abraço ou um “cheiro” na mãe, mas Joseildo sabe que não pode. Por causa do coronavírus e porque não tem dinheiro para alugar um quarto, o técnico em enfermagem passou a dormir no terraço da casa, revezando entre um colchão no chão gelado e uma rede. Ele tem medo de contagiar a mãe, de 74 anos, que tem asma, pressão alta e, há um mês, sofreu um infarto.
“Quando soube que poderia transmitir para ela, pensei: ‘para onde eu vou?’ Com o salário que a gente ganha, não dá para alugar um quartinho. Eu não quero, casa, hotel, só quero um quarto para poder ficar tranquilo e exercer minha profissão sem medo de machucar a minha mãe, meu bem maior”, diz Joseildo da Silva Batista, de 33 anos, que trabalha em uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) em Campina Grande, na Paraíba.
Pelo trabalho de 13 plantões mensais de 12 horas (divididos entre seis de 24 horas e um de 12), ele recebe o salário mínimo: R$ 1.045, ou R$ 946 líquidos. Ou seja, R$ 80 por cada plantão de 12 horas.
Como Joseildo, profissionais de enfermagem de todo o país recebem salários baixos para trabalhar longas horas e exercer um trabalho fundamental na linha de frente ao combate desta pandemia. De todos os profissionais de saúde, eles são os que mais têm contato com pacientes com covid-19, a doença causada pelo vírus.
Muitos têm trabalhado sem equipamento de proteção necessário, como máscaras, luvas e aventais adequados, escasso em diversos hospitais públicos e privados pelo Brasil. Expostos, estão praticamente arriscando a vida. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) já contabiliza 17 mortes de profissionais de enfermagem no Brasil que tiveram suspeita ou confirmação de covid-19.”
Fonte: BBC News
Data original de publicação: 10/04/2020