Ebook Dimensões do Trabalho na Atualidade

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Por Andréa Vettorassi e Flávio Munhoz Sofiati (org.) | Cegraf UFG

APRESENTAÇÃO | por Andréa Vettorassi e Flávio Munhoz Sofiati

“Esse livro faz parte da Coleção SocioLogias, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás, em parceria com o Centro Editorial e Gráfico da mesma instituição, e apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Com outro livro que tem nas diferenças, desigualdades e violências seu eixo central, organizado por Luiz Mello e Eliane Gonçalves, constitui as primeiras compilações da Coleção SocioLogias, voltadas para a publicação de resultados de pesquisas desenvolvidas no programa e de parcerias estabelecidas com pesquisadores
de outras instituições do país e do mundo.

Os capítulos deste volume estão articulados em torno da categoria trabalho, sendo que a noção de gênero também é administrada pela maioria dos textos para analisar, fundamentalmente, a precariedade do trabalho feminino no mercado formal e informal, além dos impactos do trabalho doméstico. Os primeiros quatro capítulos tratam de diferentes setores do mercado de trabalho e seus contextos de exploração de trabalhadoras. Os quatro últimos, tratam de diferentes contextos sociais por meio da apropriação ampla da questão do trabalho no mundo contemporâneo.

Numa perspectiva bourdiesiana, há um poder simbólico em toda relação social que se cria, se acumula e se perpetua em virtude da comunicação e da troca simbólica. A comunicação converte relações de força bruta em relações duráveis de poder simbólico. O capital econômico passa a ser simbólico e a dominação econômica passa a ser dependência pessoal. Bourdieu menciona, a partir dessas fundamentações, uma dupla verdade presente no trabalho, que é o investimento no trabalho propiciado pelo desconhecimento de sua verdade objetiva que o denomina como exploração, que leva a encontrar no trabalho um ganho intrínseco, irredutível ao mero rendimento em dinheiro. A perda do trabalho ou mesmo suas drásticas transformações e conflitos acarretam uma mutilação simbólica que se pode atribuir à perda das razões de serem associadas ao mundo do trabalho e às construções identitárias. Portanto, a verdade subjetiva está tanto mais afastada da verdade objetiva quanto maior é o domínio do trabalhador sobre o seu trabalho.1

Sob a perspectiva de uma dupla verdade do trabalho, como analisar o trabalho acadêmico e, no caso mais específico do livro ora apresentado, o trabalho de sociólogos refletindo sobre o trabalho? Assim como na figura mitológica Ouroboros, de uma serpente engolindo a própria cauda, utilizar a Sociologia e suas ferramentas para a reflexão dos desafios, explorações e simbologias do mundo do trabalho implica também refletir sobre as
limitações, dores e perdas do ofício do sociólogo e dos demais representantes das Ciências Humanas, sobretudo no contexto da pandemia que acometeu todo o planeta no ano de 2020.

Ao contrário do que muitos representantes do Estado insistem em frisar com desmerecimentos e ataques diretos, a pandemia traz à tona uma série de conceitos e discussões muito caros à Sociologia, demonstrando a urgência de uma reflexão cuidadosa e sistemática de suas manifestações e fenômenos, passível de ser realizada apenas pelos representantes da Filosofia e Ciências Humanas de forma geral. Alguns desses fenômenos nos remetem, inclusive, à incipiência da Sociologia, compreendendo o ser humano como um ser fortemente constituído pelas suas relações sociais, que compartilha tudo e é corresponsável por um todo, inclusive por um vírus invisível, que escancara uma globalização perversa. A epidemia muito rapidamente se alastrou por todo o planeta, e em todos os países demonstrou-se muito mais letal entre as classes economicamente mais baixas. No Brasil, segundo dados de médicos e epidemiologistas, chega a matar sete vezes mais nos bairros com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos.2 Ainda assim, a empatia e a relação cidadã são ínfimas, demonstrando a falta de compreensão da corresponsabilidade social com o mundo: o isolamento, privilégio de pequenos grupos, é desrespeitado sem escrúpulos. Pressionados por um mercado que a duras penas reconhece no trabalhador e no consumidor a manutenção da máquina econômica, representantes políticos sentenciam precipitadas estratégias de reabertura do comércio e filas quilométricas são formadas em shoppings e lojas, prato cheio para uma ampla discussão possível pela Sociologia do consumo e do trabalho. Além disso, uma reflexão sobre o que se convencionou chamar de “necropolítica”, termo cunhado por autores como Achille Mbembe, esclarece que, na sociedade do trabalho incessante e consumo maciço, algumas vidas importam muito pouco.

São, então, dezenas de conceitos e análises sociológicas possíveis até aqui, por exemplo: relações sociais, relações políticas, globalização, desigualdade, diferenças, liberdade, trabalho/trabalhador, consumo, necropolítica. As sociedades contemporâneas, sob muitos aspectos que ultrapassam a pandemia, estão doentes. Mas são sociedades doentes que medem poucos esforços para uma reflexão de seus próprios sintomas. Esse livro compila muitos empenhos no levantamento de diagnósticos e tratamentos concernentes ao mundo do trabalho e às explorações, deficiências e desigualdades que o compõem. A compilação aqui apresentada atesta o compromisso de que, a despeito da dupla verdade do trabalho também presente no exercício acadêmico, seja ainda possível, com resiliência a perseverança, publicar resultados do ofício da Sociologia e demonstrar a sua importância e urgência. (…)”

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Fonte: Cegraf UFG

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