Estudo aponta penalidades salariais e alta taxa de sobre-educação entre doutores no mercado de trabalho

Reprodução

Por IPEA
Data original de publicação: 26/08/2024

Prêmio salarial para doutores no setor educacional é de apenas 1,1% sobre o salário-hora, enquanto nos setores não educacionais, esse prêmio atinge 8,7%

O Brasil tem formado cada vez mais doutores, mas muitos desses profissionais altamente qualificados enfrentam subutilização no mercado de trabalho. Segundo os resultados apresentados no texto para discussão “O Prêmio Salarial e a Penalidade por Sobre-Educação de Doutores: Estimativas Para o Setor Privado Brasileiro”, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o prêmio salarial para doutores no setor educacional é de apenas 1,1% sobre o salário-hora, enquanto nos setores não educacionais, esse prêmio atinge 8,7%. Ademais, 45,9% dos doutores no setor educacional e 84,2% nos setores não-educacionais estão empregados com sobre-educação. Não há evidências de penalidade salarial pela sobre-educação no setor educacional, mas nos setores não educacionais, essa penalidade pode chegar a 6,4%.

O autor do estudo, Daniel Gama e Colombo, especialista em políticas públicas e gestão governamental no Ipea, ressalta que “os resultados do estudo evidenciam a dificuldade de inserção e aproveitamento dos doutores no mercado privado brasileiro, o que pode prejudicar o desenvolvimento tecnológico das firmas e o desempenho econômico”. Para ele, o prêmio salarial reduzido da titulação pode diminuir a atratividade do doutorado para novos estudantes, “como demonstrado em 2022, quando houve uma queda no número de ingressantes nos programas de doutorado no país”, afirma.

A pesquisa utiliza microdados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2010 a 2021, abrangendo informações de entidades empresariais e organizações privadas, para analisar o retorno da titulação e o emprego em ocupações que não exigem ou não são compatíveis com o doutorado, uma situação conhecida como sobre-educação.  A diferença entre as distribuições de remuneração revela que os doutores empregados em funções alinhadas à sua formação recebem salários significativamente maiores do que aqueles que estão em situação de sobre-educação. Essa penalidade salarial é mais evidente nos setores não educacionais, onde a mediana do salário-hora é cerca de 64% maior para quem está em uma posição alinhada à sua qualificação. No setor educacional, a diferença é de aproximadamente 14%.

O período analisado foi marcado por mudanças no sistema de pós-graduação e na economia brasileira, com uma expansão dos programas de doutorado e uma mudança no perfil das universidades. Apesar da melhora na distribuição regional dos programas, a concentração ainda predomina na região Sudeste. As instituições privadas cresceram cerca de 120%, enquanto as públicas aumentaram aproximadamente 60%, mas estas ainda dominam com mais de 80% dos programas ao final do período.

A economia brasileira enfrentou dois grandes choques: o primeiro foi a crise econômica de 2015-2016, e a segundo, a pandemia de Covid-19. Ambos impactaram negativamente a produção e a renda nacional, resultando em diminuição salarial e mudanças no emprego. A recessão afetou a administração pública e a indústria, enquanto a pandemia prejudicou os setores de alojamento, alimentação e trabalho doméstico.

Os resultados do estudo também mostram que doutores têm um baixo nível de emprego formal e são sub-representados no setor industrial. Em 2019, apenas 75% dos doutores estavam formalmente empregados, com uma pequena proporção no setor privado (9,6%) e na indústria de transformação (1,3%). A crescente oferta de doutorados e a limitação de vagas nas universidades têm levado a um aumento do emprego de doutores no setor privado não-educacional, o que tem reduzido a remuneração média desses profissionais para baixo.

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