Fenômeno da “uberização” extrapola setor do transportes
Por Cristiane Andrade / O Tempo
O fenômeno chamado popularmente de “uberização” nos idos de 2017-2018, quando os serviços de transporte de passageiros e delivery tiveram um boom no Brasil, vem mudando a forma de lidar com a legião de gente que trabalha via plataforma de apps.
Antes vantajosas, segundo os próprios trabalhadores, com inúmeras facilidades, essas jornadas de trabalho hoje recebem críticas que envolvem principalmente as questões trabalhistas e os percentuais das tarifas que repassam aos profissionais.
“Quando a Uber começou a rodar no Brasil, em 2014, tinha balinha, água e bombom. Hoje, não podemos oferecer nada ao passageiro, pois, para ganharmos algum dinheiro, descontando o combustível e a manutenção do carro, precisamos trabalhar dez horas por dia e rodar no mínimo 200 km. Teve época de ganharmos R$ 400 ao dia sem rodar muito.
Antes, eu pegava uma corrida e, se acionava outra quando estava terminando, o app bloqueava. Hoje, Uber e 99 mudaram: não bloqueiam; o motorista escolhe a corrida que quer fazer e cancela quando quer. As promoções e metas que eram um grande atrativo, sumiram. Hoje, só aparecem quando o app percebe que o motorista não está rodando muito. Daí, lança um bônus de R$ 50 se fizer dez corridas, por exemplo”, relata Sérgio Nascimento, presidente da Associação dos Motoristas por Aplicativo e Autônomos de Minas Gerais (Asmopoli-MG).
Plataformização da vida
Na visão do geógrafo e pesquisador Fábio Tozi, coordenador do Observatório das Plataformas Digitais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o processo de uberização não está limitado ao universo do transporte. “A plataformização se dá em várias profissões – que podem oferecer e pegar trabalhos por aplicativos diversos – e na vida em geral. Usamos tudo via plataformas, para comprarmos comida, roupas. O fenômeno tem a ver com as relações de trabalho que vêm sendo modificadas pelos algoritmos invisíveis e têm características definidas: se dá no espaço digital, é marcada pela ausência do chefe presente, sem normas tradicionais de trabalho, sem poder de negociação e com ‘ordens’ claras”, aponta Tozi.
Segundo ele, há plataformas de serviços de mídia e na educação, por exemplo, com apps que ofertam aulas variadas a professores, ou trabalhos freelancer para jornalistas, designs e fotógrafos, onde são remunerados por hora ou por trabalho.
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Fonte: O Tempo
Data original de publicação: 31/05/2023