Greve da Replan que desafiou regime militar e virou marco na luta por direitos trabalhistas completa 40 anos

Movimento dos petroleiros da Replan em 1983 culminou com a greve geral de julho, há 40 anos, em plena Ditadura Militar — Foto: Reprodução/EPTV

Movimento de 1983 é apontado como o estopim para reivindicações trabalhistas que culminou com a greve geral de 21 de julho.

Por João Alvarenga e Jonatan Morel, EPTV e g1 Campinas e Região

A greve deflagrada em 1983 por petroleiros da Refinaria de Paulínia (SP), a Replan, entrou para a história e virou marco na luta por direito dos trabalhadores no Brasil. Em meio à ameaça de demissões, funcionários da Petrobras desafiaram o regime militar e cruzaram os braços no dia 6 de julho daquele ano. Foram seis dias de protestos, tensão e conquistas.

A greve que completou 40 anos é apontado por pesquisadores como fundamental para a formação de um movimento mais amplo, culminando com a greve geral de 21 de julho.

“Foi extremamente importante para contestar uma política econômica do governo Figueiredo, de arrochar salários, cortar gastos públicos, diminuir investimentos, reduzir direitos, demitir trabalhadores. A greve contribui para criar um movimento mais amplo, que vai desembocar uma greve geral, a primeira na Ditatura Militar. Começa com esse movimento (Replan) e termina em 21de julho”, explica José Darl Krein, professor do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp.

Segundo Carlos Alberto Lucena, professor da Universidade Federal de Uberlândia e autor do livro “Seis de julho: a greve dos petroleiros de 1983”, todos os setores da Replan aderiram à paralisação. Desde a produção até os setores administrativo e de segurança.

“Foi a greve que teve o maior percentual de adesão da história das greves da Petrobras”, destacou Lucena.

Quem viveu a luta relembra com orgulho o legado construído ao lado de cerca de 800 trabalhadores – ao final do movimento, 152 foram demitidos.

“Eu era muito engajada. Continuo participando agora em outros termos, segundo minha idade atual e minhas possibilidades, mas eu sinto orgulho de quem luta. Sempre”, destaca Wanda Conti, secretária aposentada.

Boa parte do movimento grevista teve como cenário o Centro de Convivência Cultural de Campinas. O teatro de arena foi palco de assembleias, e muitos até dormiam nas arquibancadas, unidos, com receio de possíveis represálias do governo militar da época.

“Dormia pouco porque chegavam várias notícias. Ô, amanhã vocês vão ser presos. Aí saía todo mundo correndo e ia para outro lugar”, relembra Pedro Luiz de Campos, operador aposentado da Replan.

Ao revisitar a memória quatro décadas atrás, a emoção toma conta de Pedro. Ele esteve entre os que perderam o emprego após o movimento, e sofreu com a perseguição atingiu os grevistas.


“As empresas da região acho que se organizaram e não contratavam mais os grevistas. Então eu tive de tirar uma carteira nova, tentar arrumar emprego numa fábrica de Limeira. Trabalhei um dia e descobriram, e daí fui demitido. A gente sofreu bastante, e tivemos que fazer uma coisa autônoma”, conta Pedro, que ao lado de outros dois operadores montou um negócio: o Bar Resistência.

“Era um movimento que chamou atenção do Brasil inteiro, os olhos ficaram muito focados em torno dessa greve pelo poder simbólico que ela construiu naquele momento histórico, e hoje sem dúvida nenhuma é um marco do movimento trabalhista brasileiro”, completa Krein.

Clique aqui e leia a reportagem na íntegra

Fonte: EPTV e g1 Campinas e Região

Data original da publicação: 06/07/2023



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