Israel encerrou sede da Al Jazeera em Ramallah, na Cisjordânia ocupada
Soldados israelenses invadiram a sede da Al Jazeera em Ramallah, forçando os trabalhadores a sair e fechando o local por ordem militar. Durante a ação, material foi confiscado, danos foram causados, e um cartaz da jornalista Shireen Abu Akleh, morta por forças israelenses em 2022, foi rasgado. Os trabalhadores da imprensa enfrentam repressão contínua, com acusações de instigação ao terrorismo. A invasão faz parte de uma série de ataques contra jornalistas palestinos, que têm sido alvos frequentes desde 2023, resultando na morte de 173 jornalistas até agora, segundo números palestinos.
Por AbrilAbril
Na madrugada de domingo, soldados israelitas invadiram a sede da Al Jazeera na Margem Ocidental ocupada e obrigaram os trabalhadores a sair do local, que foi encerrado por ordem militar.
A sede da cadeia de TV Al Jazeera em Ramallah a ser invadida por tropas israelitas, a 22 de Setembro de 2024 Créditos / PressTV
Soldados das forças de ocupação, fortemente armados, entraram nas instalações do canal de TV, com sede no Catar, por volta das 3h da madrugada e entregaram ao director, Walid al-Omari, uma nota a decretar o encerramento dos escritórios de Ramallah.
No portal em inglês, o canal visado revela que a ordem abrange um período de 45 dias; no entanto, al-Omari destacou que esta deve ser renovada automaticamente, tal como ocorreu com uma ordem civil decretada em Maio, relativa ao encerramento da Al Jazeera no Estado ocupante.
Outro aspecto destacado pela fonte é o facto de a operação ser decretada por uma autoridade militar israelita, apesar de os escritórios da Al Jazeera agora visados se localizarem em Ramallah, onde fica a sede daquilo que se designa como Autoridade Palestiniana (AP) e numa zona a que se chama Área A, definida no âmbito dos Acordos de Oslo e que, no papel, está sob controlo «exclusivo» palestiniano.
Já na Área B, também administrada no papel pela AP, o controlo da segurança é «partilhado» com Israel, enquanto a Área C se situa inteiramente sob controlo israelita – mesmo sendo território palestiniano nos acordos internacionais.
Viaturas militares rodeiam a sede da Al Jazeera na alvorada de domingo; foram disparados tiros e gás lacrimogéneo // Mohammed Torokman / Al Jazeera
Em todo o caso, as denúncias relativas à violação da «soberania» palestiniana por parte do Estado ocupante, bem como as que dizem respeito à impunidade com que Israel actua, são habituais, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, no Líbano ou na Síria.
Cartaz de Shireen Abu Akleh rasgado
Durante a operação, em que o edifício foi cercado de tropas, os invasores procederam ao confisco de material e equipamentos, provocaram alguns danos e rasgaram um cartaz que figurava a jornalista palestiniana Shireen Abu Akleh.
Recorde-se que a trabalhadora da Al Jazeera foi assassinada a sangue-frio, com um tiro na cabeça, quando, identificada com um colete da imprensa, fazia a cobertura de uma operação militar israelita em Jenin, a 11 de Maio de 2022.
O funeral da jornalista, de 51 anos, foi alvo de brutal repressão das forças militares sionistas.
«Não são permitidas testemunhas»
Tropas israelitas «atiraram a matar», diz colega de jornalista assassinada
A denúncia foi realizada pela relatora especial das Nações Unidas para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, na sua conta de Twitter (X), a propósito da acção contra os escritórios da Al Jazeera em Ramallah.
Albanese foi uma de várias vozes a criticar e condenar a invasão da sede da cadeia de TV em Ramallah. Tim Dawson, da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), disse que se trata de «uma evidência clara de uma política determinada para reprimir qualquer tipo de crítica».
As forças de ocupação alegaram que os escritórios na Cisjordânia da cadeia com sede no Catar «instigavam o terrorismo». Isso mesmo foi divulgado num comunicado militar, juntamente com a acusação de que «apoiavam actividades terroristas» e transmitem conteúdos que «ameaçam a segurança e a ordem pública» tanto nas regiões ocupadas pelos sionistas em 1967 como nas que o foram em 1948.
Um ministro das comunicações do Estado ocupante disse mesmo que a Al Jazeera era um «porta-voz do Hamas e do Hezbollah».
Silenciar os jornalistas
Desde 7 de Outubro de 2023, há quase um ano, as forças israelitas mataram um número sem precedentes de jornalistas e trabalhadores da imprensa, no meio de vastas críticas internacionais.
De acordo com números oficiais palestinianos, 173 jornalistas e trabalhadores da imprensa foram mortos desde o começo da mais recente agressão israelita.
Solidariedade dos jornalistas com os seus colegas em Gaza
O caso mais recente ocorreu este mês, quando as forças de ocupação provocaram a morte de mais um jornalista em Gaza, Abdullah Shakshak, que «trabalhava para vários meios de comunicação árabes», revela a agência Anadolu.
Para homenagear os trabalhadores mortos quando exerciam a sua profissão e chamar a atenção para as condições em trabalhavam aqueles que continuavam a reportar no enclave cercado, a FIJ decidiu assinalar o dia 26 de Fevereiro como Dia Internacional de apoio aos Jornalistas Palestinianos.
Ataques israelitas prosseguem
Os raides, ataques, detenções e agressões de militares e colonos israelitas na Margem Ocidental continuam, assim como os bombardeamentos sionistas em vários pontos da Faixa de Gaza.
As autoridades de Saúde confirmaram a morte de pelo menos 41 431 palestinianos, desde 7 de Outubro de 2023, no enclave costeiro, bem como 95 818 feridos – sendo a maioria das vítimas mulheres e crianças.
Fonte: AbrilAbril
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Data original de publicação: 23 de Setembro de 2024