Lula, a imprensa e a descomodificação da força de trabalho, por Michel Aires

Fonte: Wikipedia | Operários de Tarsila do Amaral

Por Michel Aires | Jornal GGN

A grande mídia denominada como PIG – Partido da Imprensa Golpista, cuja expressão foi cunhada pelo jornalista Paulo Henrique Amorin, já começou a atacar os ganhos da classe trabalhadora. Com uma taxa desemprego de 7,8% no primeiro trimestre de 2024, estabelecendo um recorde histórico de pessoas ocupadas nos últimos 10 anos, e com o aumento da renda média da classe trabalhadora para mais de 3000 reais, a grande mídia começou a ficar histérica. Os jornalistas afirmam que o Mercado e Banco Central acenderam à “luz amarela”. Para a elite financeira e empresarial, as baixas taxas de desemprego e o aumento de renda da classe trabalhadora devem produzir um impacto negativo na economia. Sem o menor pudor, a imprensa burguesa argumenta que a baixa taxa de desemprego produz a falta de mão de obra no mercado de trabalho e, em consequência disso, gera o aumento dos salários. Desse modo, há um excesso de aquecimento na economia, que faz aumentar a inflação.  Esse tipo de argumento  tem uma única finalidade, defender os interesses do grande capital.

No Brasil, a mão de obra sempre foi uma commodity, uma mercadoria barata. As elites para controlar a classe trabalhadora historicamente sempre mantiveram um exército de reserva de desempregados. Ao manter uma alta taxa de desemprego, a burguesia também mantém os salários baixos, aumenta a acumulação de capital e inibe as reivindicações trabalhistas. Por essa razão, a imprensa golpista sempre atacou governos trabalhistas, como os de Getúlio Vargas, Jucelino Kubitschek e Lula. Hoje, Lula representa uma pedra no sapato das elites financeiras e empresariais.

Podemos afirmar com segurança que o grande objetivo do governo Lula é a descomodificação da força de trabalho. Quando o capitalismo transforma a força de trabalho em uma commodity, ou seja, em uma mercadoria barata, o trabalhador torna-se totalmente dependente da sua força de trabalho para sobreviver. Mas, quando o Estado de Bem-Estar acolhe e protege o trabalhador, por meio de políticas sociais, há uma descomodificação da força de trabalho. Ao oferecer proteção ao trabalhador, garantindo condições básicas de sobrevivência, as políticas sociais valorizam a força de trabalho. O sistema de seguridade social protege o indivíduo e o torna mais independente para negociar com seu empregador. Segundo Santos (2009), a descomodificação acontece quando o indivíduo começa a ter acesso a bens e serviços de que necessita para manter sua vida, por meio das políticas sociais do Estado, enquanto direitos sociais. Desse modo, ele não precisa comprá-los com seus salários, ganhando maior autonomia para exigir melhores condições de emprego e renda. Esse é o objetivo dos programas sociais como Bolsa família, Minha Casa Minha Vida, Gás para Todos, Luz para todos, Pé-de-Meia etc. Quando o trabalhador possui condições mínimas de sobrevivência, por meio de direitos sociais, sua força de trabalho passa a ser valorizada.

Essa experiência de descomodificação da força de trabalho pelo Estado de bem-estar social não é nova. Ela foi estudada pelo cientista social dinamarquês Esping-Andersen, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ele ficou conhecido pelo seu livro Trois Mondes de l’État Providence (Três mundos do Estado de bem-estar social), tornando-se um clássico sobre o assunto. Em seus estudos, o cientista social encontrou os maiores índices de universalidade das políticas as sociais nos países nórdicos, como Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia. Nesses países o sistema de proteção social atingiu a todos. São esses países que apresentaram os maiores gastos com seguridade social (SANTOS, 2009). São esses países hoje que possuem os maiores índices de IDH – Indice de Desenvolvimento Humano. Se este é o caminho que o Brasil está seguindo, estamos no rumo certo.

Referências

SANTOS, Maria Paula Gomes dos. O Estado e os problemas contemporâneos. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC, 2009.

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Por Michel Aires | Jornal GGN
Data original de publicação: 31/03/2024

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