Maiores redes de supermercados alimentam exploração e desigualdade
Por Cida de Oliveira | Rede Brasil Atual
“O combate à exploração de mão de obra envolvida nas cadeias de fornecimento de alimentos, principalmente pequenos agricultores e mulheres, não faz parte do compromisso dos grandes grupos supermercadistas em atuação no Brasil, Carrefour, Big (ex-Walmart) e Pão de Açúcar. É o que constata o levantamento Por Trás das Suas Compras, divulgado nesta quarta-feira (13) pela organização Oxfam Brasil.
As três redes juntas obtiveram média de 4% em uma escala que confere 100% às empresas do setor totalmente responsáveis, com ações efetivas voltadas à promoção dos direitos humanos nas cadeias de fornecimento. A que obteve melhor desempenho foi o Pão de Açúcar (6,5%), seguido pelo Carrefour (2,7) e Big (2,2%).
Na prática, os números mostram que esses supermercados não exercem papel de liderança quando o assunto é o enfrentamento de questões centrais na manutenção e aprofundamento das desigualdades sociais. E praticamente nada fazem para exigir de seus fornecedores o pagamento de salários dignos a seus empregados, conforme indicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Global Living Wage Coalition. Tampouco o apoio ao direito de livre associação e negociação coletiva e o engajamento com os sindicatos rurais.
Estímulo ao latifúndio
Em vez disso, concentram seu fornecimento em grandes produtores, aponta o relatório. E assim estimulam um modelo agrícola baseado em latifúndios, que acumulam vantagens competitivas com relação aos pequenos, em uma posição de mercado vantajosa e com maior poder político e econômico.
“A situação estrutural de vulnerabilidade dos trabalhadores, pequenos agricultores e comunidades rurais demanda a atenção de todas as grandes empresas que estão ligadas às cadeias produtivas de alimentos, incluindo dos maiores supermercados do Brasil”, defende a Oxfam em seu relatório.
Em outro trecho, o documento lembra que os salários de trabalhadores rurais e a renda de agricultores familiares são baixos, colocando-os entre as faixas de renda mais pobres do país.
Conforme a organização, o poder de barganha e negociação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais vem diminuindo. No Brasil, cerca de 60% dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados rurais são informais, índice que chega a 90% em alguns estados. Apesar de terem emprego e trabalharem muito, não conseguem sair da situação de pobreza e vulnerabilidade.
Direitos humanos
Para conhecer as práticas de responsabilidade corporativa, sustentabilidade e cumprimento de compromissos com os direitos humanos, os pesquisadores analisaram as políticas corporativas, declarações e compromissos disponíveis publicamente nos websites desses grupos, que controlam os maiores supermercados e também grandes estabelecimentos atacadistas em todo o país – 46,6% do setor.
“A comparação dos maiores supermercados brasileiros com seus pares no mundo mostra que eles precisam fazer mais. Ainda estão muito distantes das melhores práticas sobre responsabilidade com direitos humanos nas cadeias de fornecimento”, disse Gustavo Ferroni, coordenador da área de Setor Privado, Desigualdades e Direitos Humanos da Oxfam Brasil. “A boa notícia é que os três maiores supermercados brasileiros têm os recursos, além de capacidades e condições para estar entre os mais avançados. Só falta a decisão empresarial de fazer.”
Estudo recente da organização demonstrou as condições precárias de trabalhadores rurais em cadeias de fornecimento de supermercados em diversas partes do mundo. No Brasil, exploração, pobreza, adoecimento pela contaminação por agrotóxicos na produção de frutas no Brasil. Cita também exploração de imigrantes na produção de verduras e legumes no sul da Itália e salários miseráveis nas plantações de banana e abacaxi da Costa Rica, entre outros. “Os supermercados do mundo precisam melhorar o respeito aos direitos humanos e o controle da situação dos trabalhadores rurais, especialmente as mulhers, em suas cadeias produtivas.
Desde 2018 a Oxfam Brasil tem cobrado dos grandes supermercados um posicionamento em relação aos direitos humanos em suas cadeias de fornecimento. Há uma petição online, com mais de 75 mil assinaturas, exigindo que essas empresas façam a sua parte para dar uma vida mais digna a quem planta e colhe os alimentos.”
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Fonte: RBA
Data original da publicação: 13/01/2021