Na Paulista, máscaras, incrédulos do coronavírus e a certeza dos que ali trafegam: “Preciso trabalhar”

Imagem: Pixabay

Por Breiller Pires| El País

“Quem está habituado a caminhar na Paulista depois das 17h sabe que é praticamente impossível se movimentar pela calçada sem esbarrar em alguém ou em alguma sacola de compras ou em uma e outra sombrinha nos dias de chuva. Agora, sob estado de calamidade, que fechou comércios esta semana em medida restritiva contra a disseminação do coronavírus, a mais tradicional avenida de São Paulo ficou bem mais vazia na hora do rush, mas não está tão deserta como se poderia imaginar. Por ela continuam circulando carros, ônibus —alguns lotados de passageiros—, motoboys, ciclistas, turistas, moradores de rua e, sobretudo, trabalhadores que não tiveram opção de permanecer em casa para se proteger da pandemia.

“Estou na rua por obrigação, não por diversão”, explica a contadora Maria Lemos, 35, que trabalha para uma rede de supermercados, um dos serviços considerados essenciais que seguem em funcionamento. Como precisa sair todos os dias para trabalhar, ela optou por deixar o filho de 17 anos com a mãe, de 52, que trata de um câncer. Há duas semanas, por precaução, parou de visitar a família e pretende morar sozinha ao longo da quarentena para conseguir bancar as contas, já que a mãe e o padrasto, que têm um salão de beleza, tiveram de fechar as portas do estabelecimento. No trajeto diário até a Paulista, usa luvas e máscara, além de levar um kit de higienização com álcool em gel na mochila. “Enquanto a gente, que é empregado, toma todos os cuidados possíveis, o presidente manda o povo fazer o contrário. Para mim, ele é um genocida”, diz Maria.

Nascido em Recife, Jonas Lopes da Silva, 28, mora há quatro anos em São Paulo e atua como pintor em reformas na fachada de prédios. A empresa em que trabalha distribuiu luvas e máscaras aos funcionários, mas não os liberou durante a quarentena. Mesmo contrariado, temendo ser infectado pelo coronavírus no serviço ou no longo trajeto de ônibus até Diadema, onde mora sozinho, ele se mantém na ativa. “E os meus filhos?”, justifica, lembrando da pensão que paga aos dois dependentes que deixou em Pernambuco. “O presidente [Bolsonaro] está errado. A coisa é muito perigosa, ninguém deveria trabalhar. Mas, como a gente combinou com o patrão, fazer o quê, né?”. “

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Fonte: El País
Data original de publicação: 28/03/2020

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