Nem-nem ou sem-sem? Jovens querem trabalhar, mas não têm oportunidades no mercado

Geração 'nem-nem' quer trabalhar, mas não tem oportunidades | ASMETRO-SI

Pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

No 2º trimestre de 2024, estima-se que mais de 9,8 milhões de jovens entre 15 e 29 anos (20%) estavam sem trabalho e fora da escola, conhecidos por alguns como “nem-nem” (Gráfico 1). Mas por que esses jovens se encontravam nessa situação? Faz sentido chamá-los de “nem-nem”?

Gráfico 1. De estudante a trabalhador
Como os jovens estão distribuídos entre as diferentes formas de atividade em cada fase da vida?
Fonte: IBGE. Pnad Contínua 2º trimestre de 2024. Elaboração: DIEESE.

Os jovens não estão parados
A maior parte dos chamados “nem-nem” não está na ociosidade. Na verdade, muitos estão procurando trabalho, lidando com afazeres domésticos (cuidando de casa, filhos ou parentes) ou realizando cursos não regulares. Apenas 7% dos jovens não estavam envolvidos em nenhuma dessas atividades (Gráfico 1).

  1. Atualização do Boletim Emprego em Pauta nº 11, disponível em: [link]
  2. Em geral, as estatísticas relacionadas aos chamados “nem-nem” no Brasil consideram como fora da escola qualquer jovem que não esteja no ensino regular (fundamental, médio ou superior), mas não incluem aqueles matriculados em cursos pré-vestibulares ou de treinamento.

A ideia de que os jovens estão nessa situação por falta de vontade de trabalhar ou estudar não se aplica à maioria dos casos. Há evidências de que essa é, em geral, uma condição transitória. Algumas estatísticas sobre o 2º trimestre de 2024 mostram a seguinte realidade:

  • Apenas 1,4% dos jovens afirmaram que realmente não queriam trabalhar.
  • 23% dos jovens sem trabalho e fora da escola procuraram ativamente emprego no mês em que foram entrevistados pelo IBGE.
  • 12% das mulheres declararam que não podiam trabalhar porque tinham que cuidar de afazeres domésticos, o que indica que estavam trabalhando, mas não são contabilizadas como parte da força de trabalho.
  • 8% dos jovens sem trabalho e fora da escola faziam algum tipo de curso ou estudavam por conta própria.

Gráfico 2. Um quarto dos jovens sem trabalho e fora da escola no 2º trimestre de 2023 mudou de situação no trimestre seguinte.
O que eles foram fazer?
Fonte: IBGE. Pnad Contínua – 1º e 2º trimestres de 2024.

Este é um período de transição para muitos jovens, que saem da escola e buscam inserção no mercado de trabalho, enfrentando elevada instabilidade. Cerca de 27% dos jovens considerados “nem-nem” no primeiro trimestre de 2024 não estavam mais nessa situação no trimestre seguinte, a maioria porque começou a trabalhar. Se considerarmos um período maior, 39% dos jovens que estavam sem trabalho e fora da escola no 2º trimestre de 2023 haviam mudado de situação um ano depois.

  1. Estudo do BID, “Millennials na América Latina e no Caribe: trabalhar ou estudar”, confirma isso. Dados sobre o Brasil a partir da p. 85. Disponível em: [link].
  2. Esse número pode ser ainda menor, pois pesquisas domiciliares, como a Pnad, superestimam o número de pessoas não ocupadas.

Oportunidades desiguais na saída do ensino médio
Anualmente, cerca de dois milhões de jovens concluem o ensino médio. Para muitos, essa etapa marca a entrada no mercado de trabalho, seja como trabalhadores ou em busca de emprego. Outros continuam os estudos no nível superior ou se preparam para o vestibular. Dos jovens que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023, cerca de 23% não trabalhavam nem estudavam no ensino regular no início de 2024.

A origem socioeconômica influencia diretamente as perspectivas de trabalho e estudo dos jovens. Entre os que terminaram o ensino médio em 2023 e ficaram sem trabalho e fora da escola no início de 2024, a maior parte dos que viviam em lares mais ricos estava envolvida em algum tipo de curso. Já entre os jovens de domicílios mais pobres, a busca por trabalho era a situação mais comum.

Os jovens de famílias com melhores condições socioeconômicas têm mais oportunidades de continuar os estudos após o ensino médio. Enquanto 18% dos egressos do ensino médio em 2023 e provenientes de lares mais ricos ingressaram no ensino superior em 2024, apenas 7% dos jovens de famílias mais pobres seguiram o mesmo caminho. Entre os que não trabalhavam nem estudavam naquele momento, 9% dos jovens de lares mais ricos estavam envolvidos em outros tipos de cursos, comparados a 6% dos jovens mais pobres.

Gráfico 3. Diferentes origens, diferentes perspectivas
O que os jovens que concluíram o ensino médio em 2023 estavam fazendo em 2024?
Fonte: IBGE. Pnad Contínua – 1º trimestre de 2024. Elaboração: DIEESE.

Os jovens de lares mais pobres estão mais empenhados na busca por emprego. Cerca de 40% dos jovens de famílias mais pobres que estavam no terceiro ano do ensino médio em 2023 participavam do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2024; 30% estavam empregados, enquanto 10% estavam sem trabalho e fora da escola, mas procurando ativamente um emprego. Entre os jovens de lares mais ricos, os percentuais eram menores: 26% e 4%, respectivamente.

Nem-nem ou sem-sem?
O problema não são os jovens. Chamá-los de “nem-nem” gera a falsa impressão de que são eles os responsáveis por uma situação de inatividade que nem mesmo é real, já que a maioria não está parada: estão procurando trabalho, realizando cursos não regulares ou cuidando dos afazeres domésticos. Ficar sem trabalho e fora da escola é geralmente uma situação transitória, causada pela falta de vagas de trabalho ou oportunidades de continuar os estudos. Muitos jovens não dispõem de recursos financeiros para estudar ou até mesmo para procurar emprego.

Gráfico 4. Taxa de desocupação entre 2022 e 2024 (em %)
A desocupação entre os jovens segue as tendências do mercado de trabalho geral.
Fonte: IBGE. Pnad Contínua. Elaboração: DIEESE.

A solução para esse problema está no crescimento da atividade econômica e na valorização de políticas públicas de emprego e educação, adequadas à realidade dos jovens, para garantir acesso à escola e ao mercado de trabalho formal.

Fonte: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

Confira o material completo no site do DIEESE.

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