O microempreendedor do aplicativo e o terraplanismo

Por Vanessa Patriota da Fonseca

Certamente há sérias consequências, do ponto de vista psíquico e social, desse modelo que isola, que acirra a competição, que rompe laços de sociabilidade, que coloca nas costas do trabalhador todo o peso do fracasso

Ensinam Dardot e Laval que o neoliberalismo tem que ser entendido como uma racionalidade; algo que organiza tanto a ação dos governantes quanto a dos governados; uma lógica que rege as relações de poder e as maneiras de governar e que é capaz de conferir sentido às práticas e limitar o horizonte de reações ao sistema, pois nada além dele possui validade. A receita é forçar governantes à austeridade e governados ao domínio de si sob a pressão da competição.

Nesse contexto, houve um processo de transformação da empresa como modelo de subjetivação tanto do Estado quanto dos indivíduos. Por meio de diferentes técnicas de gestão e do conceito de governança, a racionalidade neoliberal remodelou o funcionamento das empresas. Avaliações de desempenho passaram a ser utilizadas para medir a eficácia de equipes e indivíduos e estimular a competição entre eles como forma de aumentar a produção.

A subjetivação neoliberal, no plano individual, incorporou a forma de empresa-de-si-mesmo e as pessoas passaram a buscar a sua valorização de olho na concorrência com os demais Eus/SA. Dentro dessa lógica de captura da subjetividade do trabalhador pelas empresas, é importante que ele se identifique com ela, que “vista a camisa”, que se torne um “parceiro”, a fim de esmorecer a luta capital x trabalho, pois, afinal, a luta passou a ser entre os diferentes EUs/SA pela sobrevivência.

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Fonte: GGN
Data original de publicação: 10/12/2019


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