Países testam escala que dá um fim de semana prolongado a cada duas semanas

Fonte: Jason Goodman | Unsplash
O esquema representa um dia extra de descanso a cada nove dias úteis trabalhados, mas sem redução da carga horária mensal? Uma rara combinação de produtividade e flexibilidade
A escala “nine-day fornight”, alternativa à 4×3, tornou-se recentemente uma tendência de sucesso em alguns países como o Reino Unido, a Austrália e a Nova Zelândia.
Como funciona a nova escala?
O esquema “nine-day fornight” representa um dia extra de descanso (além do final de semana) a cada nove dias úteis trabalhados. Na prática, é como se o trabalhador tivesse uma sexta-feira de folga a cada 15 dias, em vez de folgar em todas as sextas do mês como em uma escala 4×3 tradicional.
O principal argumento em defesa deste esquema seria um aumento na motivação do trabalhador, mas sem comprometer a produtividade. Afinal, o empregador ainda teria cinco dias inteiros trabalhados em semanas alteradas.
Para empresas que consideram o 4×3 muito radical, este pode ser um bom meio-termo. A Universidade de Aberdeen, no Reino Unido, oferece o “nine-day fortnight” aos seus funcionários como uma opção a que o trabalhador pode se candidatar. No entanto, ele não diminui o número de horas trabalhadas o mês. É apenas um esquema de compressão de horas: ou seja, em vez de trabalhar 40 horas semanais em 5 dias, o indivíduo pode trabalhar 80 horas em nove dias —fazendo jornadas de 8h53 ao dia em vez de apenas oito horas, por exemplo.
Mas esta não é a única maneira de adotar o esquema. O governo britânico considera oficialmente “nine-day fortnight” uma escala comprimida, nos moldes oferecidos pela Universidade de Aberdeen. Mas ele se enquadra na categoria de “trabalhos flexíveis”, o que significa que a empresa ou o funcionário pode customizar como estas horas serão cumpridas. É possível trabalhar 10 horas em um dia e menos no outro também se a carga horária total for satisfeita nos nove dias —e ambas as partes estiverem de acordo.
É importante frisar que em nenhuma modalidade do “nine-day fornight” há a redução do salário do empregado. O motivo? O número de horas trabalhadas por semana ou mês não cai.
Qual é o impacto do “nine-day fortnight” onde já se adota?
Exagerar nas jornadas diárias para conquistar a folga sonhada pode ser uma cilada silenciosa. Especialistas, como da agência de recrutamento britânica Reed, apontam que o bem-estar físico e mental do empregado é uma via de mão dupla. Enquanto há quem se beneficie deste novo arranjo, quem assume uma carga horária maior em um dia pode acabar vítima de fadiga e burnout, em longo prazo, para conseguir a folga extra. Portanto, a Universidade de Aberdeen recomenda que chefes que não estimulem funcionários a ultrapassar mais do que uma jornada de nove horas ao dia.
A Câmara do Condado de Essex, no Reino Unido, emprega a nova escala de maneira opcional para funcionários públicos que antes cumpriam cerca de 7h30min ao dia. Este funcionário passa a trabalhar cerca de 8h10min horas diárias, com uma hora de almoço. A pausa, nem que seja para um café, durante o dia também é indispensável quando se assume jornada maior.
A consultoria de recursos hídricos e combate a enchentes Te Miro Water, da Nova Zelândia, identificou aumento de produtividade com a implementação da escala. À rádio estatal RNZ, a fundadora Britta Jensen contou em abril de 2024 que não houve perdas —nem em clientes ou em desempenho dos funcionários, que parecem ter mais “energia” no escritório nas semanas mais curtas.
“Todo mundo sabe que há algumas partes do seu dia quando você vem trabalhar e você não produz muito, na verdade. Você fica sentado no escritório e com dificuldade de estar motivado para continuar fazendo as coisas, mas saber que você tem um dia de folga muda definitivamente a maneira com que sua mente pensa.”
Britta Jensen, da Te Miro Water
Já a empresa de sofware neozelandesa Conqa, que já utiliza o modelo há alguns anos, revelou teve que fazer alguns ajustes à sua operação. O então gerente de produto Damen Hansen afirmou também à RNZ em 2022 que a gerência teve que encontrar soluções para oferecer suporte aos clientes, por exemplo, mesmo com a semana mais curta. A adaptação dos funcionários à nova escala também não foi fácil no começo. Mas ele acredita que valeu o esforço.
“As mudanças fizeram nosso time mais feliz e ajudaram a atrair novos talentos para a empresa. O calibre e o número e bons candidatos saltou quando divulgamos [a escala] em nosso blog. Foi um enorme salto.”
Damen Hansen, da Conqa
De fato, a flexibilidade de horários costuma atrair funcionários. Uma pesquisa de 2019 da FlexJobs, uma plataforma de busca por trabalhos remotos dos EUA, revelou que 80% dos trabalhadores se dizem mais fiéis ao patrão quando têm horas mais flexíveis.
Tecnicamente, o trabalhador pode ter 26 dias de folga a mais por ano com este esquema de horas. Assim, com dias mais dedicados à vida pessoal, empresas já observam uma queda nas faltas, de acordo com o site de busca de vagas 4 Day Week.
Empresas podem ser atraídas também pela redução de sua pegada de carbono, com os funcionários indo ao trabalho menos vezes por mês. Dependendo do arranjo da contratação, pode ser interessante tanto para o empregador quanto para o empregado a diminuição dos gastos com o transporte de ida e volta ao escritório.
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Data original de publicação: 15 de maio de 2025