Pandemia impacta ocupação e inatividade mais que a recessão de 2015-2016

Imagem: Unsplash

Por IPEA

“A queda na taxa de ocupação da população brasileira praticamente dobrou ao se comparar os impactos no mercado de trabalho das duas crises econômicas mais recentes – a retração em 2015, que gerou uma perda acumulada de três pontos percentuais, e o choque decorrente da pandemia de Covid-19 em março de 2020, quando ocorreu uma redução drástica e superior a seis pontos percentuais. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado nesta quarta-feira (10), traz uma análise comparativa das duas recessões e seus efeitos no emprego.

A taxa de ocupação no país caiu de 53,5% no quarto trimestre de 2019 para 47,1% no segundo trimestre de 2020, uma queda abrupta por conta dos efeitos da pandemia e das medidas emergenciais, que impactaram fortemente a atividade econômica, segundo o estudo Comportamento do Mercado de Trabalho Brasileiro em Duas Recessões: Análise do Período 2015-2016 e da Pandemia da Covid-19. “Em ambas as crises, ocorreu uma forte queda na taxa de ocupação da população economicamente ativa, e de modo mais acentuado com a pandemia”, assinalou Carlos Henrique Corseuil, pesquisador do Ipea e um dos autores do trabalho.

Corseuil destacou que, sob recessão, as pessoas ficam represadas no desemprego e sem oportunidade de trabalho, o que ficou evidente no aumento da parcela de desempregados em um trimestre que continuam nessa situação no trimestre seguinte. Essa parcela era de 38% entre o primeiro e segundo trimestre de 2015 e passou para 48% entre o primeiro e segundo trimestre de 2017. Já em 2020, essa parcela passou de 47% para 60% em um espaço de tempo bem mais curto. “As contratações caíram vertiginosamente”, pontuou. Outro aspecto similar são os primeiros sinais de recuperação do emprego, mais fortes no setor informal. “Em 2017, começou no segundo trimestre, quando o emprego informal cresceu 4,5% e o formal ficou próximo de zero. Já no terceiro trimestre de 2020, o emprego informal registrava alta de 1,7%”, disse o pesquisador.

Por sua vez, a população fora da força de trabalho (inativos) manteve-se relativamente estável durante a crise de 2015-2016, em torno da média de 38,5%. Em 2020, porém, ela apresentou um avanço inédito de 39% para 44,7%, respectivamente, do primeiro para o segundo trimestre. “Ao longo da série essa condição nunca variou muito, em média um ponto percentual. Agora, com a recessão, a variação chegou a mais de cinco pontos percentuais”, explicou Corseuil.

A análise por setor mostra que, na primeira recessão, a indústria manufatureira e a construção foram os mais impactados, enquanto na pandemia os segmentos de serviços, como alojamento – ou meios de hospedagem, alimentação e trabalho doméstico –, foram os mais atingidos, devido principalmente ao distanciamento social. Segundo Corseuil, houve 30% de contração do emprego no segmento de alojamento e alimentação, ao se comparar o terceiro trimestre de 2020 com igual período de 2019. Já em 2016, no auge da crise anterior, a maior contração registrada foi de 10% no emprego da indústria.

O estudo do Ipea tentou entender ainda como se distribuiu a queda na ocupação por diversos segmentos da população; entre os quais, a segmentação por níveis de educação se destaca. “Quase todos os níveis educacionais registram quedas intensas no emprego, porém, os profissionais com educação superior constituem uma clara exceção a esse padrão ao manter o nível de ocupação quase inalterado em 2020, a ponto de parecer não ter havido crise para esse grupo. O fato de essas ocupações estarem concentradas no setor formal as tornam relativamente mais beneficiadas pelas medidas de contenção do desemprego, para reduzir o impacto da recessão”, explicou Corseuil, ao lembrar que essa categoria foi prejudicada em 2015 e 2017.

Para a análise comparativa, os pesquisadores do Ipea recorreram a vários indicadores de trabalho, construídos a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), ambos da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT).”

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Fonte: IPEA

Data original da publicação: 10/02/2021

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