Por que os sindicatos estão ressurgindo nos EUA
Por Alessandra Corrêa | BBC News Brasil
A decisão de funcionários de um armazém da Amazon em Nova York de participar de um sindicato, anunciada no início do mês, foi recebida não apenas como uma vitória inédita para trabalhadores da empresa, mas também como um evento de significado histórico dentro do movimento trabalhista nos Estados Unidos.
A Amazon, fundada em 1994, é o segundo maior empregador privado do país e resiste à sindicalização de seus funcionários. No passado, mesmo grandes sindicatos com décadas de experiência e milhões de dólares à disposição haviam fracassado em campanhas do tipo em outras unidades da empresa.
Mas, em votação em 1º de abril, funcionários do JFK8, um enorme depósito da Amazon com mais de 8 mil empregados localizado em Staten Island, na cidade de Nova York, aprovaram a sindicalização. Na eleição, 2.654 votaram a favor de serem representados por um sindicato de trabalhadores, e outros 2.131 votaram contra.
Essa iniciativa vitoriosa foi diferente de outros esforços do tipo, que costumam empregar organizadores profissionais. A campanha em Nova York foi encabeçada pelos próprios funcionários do armazém, com recursos limitados, arrecadados por meio de um site de financiamento coletivo.
“É provavelmente a mais importante vitória sindical (no país) em quase cem anos”, diz à BBC News Brasil o professor John Logan, diretor do departamento de estudos sobre Trabalho e Emprego da San Francisco State University, na Califórnia.
O resultado favorável na Amazon ocorre depois de uma série de vitórias semelhantes na rede de cafeterias Starbucks e em outras empresas menores nos Estados Unidos.
Na semana passada, funcionários em seis unidades da Starbucks no Estado de Nova York votaram pela sindicalização, elevando para 16 o número de lojas da rede no país onde iniciativas do tipo foram bem-sucedidas. Trabalhadores e organizadores em pelo menos outras 180 unidades da Starbucks em 29 Estados já entraram com petições com o objetivo de levar adiante a sindicalização.
Essas iniciativas, apesar de relevantes, representam uma ínfima parcela do total de trabalhadores no país. Somente a Starbucks tem mais de 9 mil lojas nos Estados Unidos. O depósito da Amazon em Nova York tem um número grande de empregados, mas ainda assim minúsculo diante da magnitude da empresa, que tem mais de 1,5 milhão de funcionários ao redor do mundo.
Mas, apesar do alcance limitado, muitos esperam que esses sucessos recentes, liderados por uma nova geração de trabalhadores jovens, possam ajudar a revitalizar o movimento trabalhista americano, que vem despertando interesse renovado depois de décadas de declínio.
De acordo com pesquisa Gallup de setembro passado, 68% dos americanos aprovam sindicatos trabalhistas, o maior percentual desde 1965. Entre os entrevistados que se identificam como democratas a aprovação é ainda maior, chegando a 90%.
“Certamente há um grau de otimismo, energia e entusiasmo em algumas partes do movimento trabalhista que não víamos há décadas”, salienta Logan, que é especialista na história dos movimentos trabalhistas dos Estados Unidos.
Mas o professor lembra que esse entusiasmo ainda não está refletido nos números. O percentual de trabalhadores representados por sindicatos vem caindo gradualmente no país desde a década de 1980, quando era em torno de 20%. Segundo o centro de pesquisas Pew Research Center, no ano passado somente 10,3% dos empregados no país pertenciam a um sindicato.
“Será preciso um esforço extraordinário para reverter esse declínio”, destaca Logan. “Se pensarmos em termos de números, (as vitórias recentes) são uma gota no oceano.”
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Fonte: BBC News Brasil
Data original de publicação: 11/04/2022