Reino Unido: os desafios do Trabalhistas após a vitória

Fonte da imagem: O Antagonista

Por Michael Roberts, no A Terra é Redonda | Outras Palavras

Vitória acachapante do Partido nas eleições o colocará diante de grandes dilemas. Conservadores devastaram serviços públicos. Indústria está desmantelada. Paraíso do rentismo, país tornou-se um dos mais desiguais do Norte global

Os cidadãos do Reino Unido votaram em uma eleição geral em 4 de julho de 2024. O Partido Conservador, após 14 anos no governo, foi fortemente derrotado. O Partido Trabalhista, de oposição, ganhou 412 cadeiras, uma maioria confortável. Trata-se de um deslizamento de terra recorde, pois os conservadores obtiveram apenas 121 assentos.

Mas antes da eleição, 75% dos britânicos mostraram que têm uma visão negativa da política na Grã-Bretanha.Este resultado é uma consequência do declínio desastroso da economia britânica e dos padrões de vida da maioria dos britânicos, juntamente com a dizimação dos serviços públicos e do bem-estar. O capitalismo britânico está quebrado e a política econômica não parecer ter forças para levantá-lo agora.

A economia do Reino Unido é a nona maior economia mundial em termos de produção a preços ajustados pelo poder de compra e a sexta quando a produção é calculada segundo as taxas de câmbio em vigor. Mas o imperialismo britânico está em declínio constante desde o final da Primeira Guerra Mundial; desde então, deu lugar ao imperialismo norte-americano como potência hegemônica.

Após a 2ª Guerra Mundial, o Reino Unido tornou-se cada vez mais um “parceiro júnior” subserviente da América. O declínio relativo da economia do Reino Unido é revelado pela queda de longo prazo no crescimento da produtividade em comparação com outras economias imperialistas, particularmente no século XXI.

Em seu livro recente, Vassal State – How America runs Britain, Angus Hanton mostra o papel dominante que as empresas e finanças americanas desempenham na propriedade e controle de grandes setores do que resta das indústrias britânicas. Essa desnacionalização e dominação por parte do imperialismo dos EUA foi aceita e até encorajada por sucessivos governos britânicos, de Thatcher do Partido Conservador a Blair do Partido Trabalhista.

Angus Hanton mostra que, em 1981, já no fim do segundo ano de Thatcher no cargo, apenas 3,6% das ações do Reino Unido eram de propriedade de residentes no exterior. E que, em 2020, esse número se tornou superior a 56%. De todos os ativos detidos por empresas americanas na Europa, mais da metade deles está no Reino Unido. As empresas americanas têm mais funcionários no Reino Unido do que têm na Alemanha, França, Itália, Portugal e Suécia juntos. As maiores empresas dos EUA vendem mais de US$ 700 bilhões em bens e serviços para o Reino Unido, o que equivale a mais de um quarto do PIB total do Reino Unido.

Quase 1,5 milhão de trabalhadores do Reino Unido são oficialmente dependentes de grandes empregadores dos EUA. Se contarmos os funcionários indiretos, como motoristas do Uber e trabalhadores de agências da Amazon, pelo menos 2 milhões de trabalhadores do Reino Unido estão subordinados a patrões que moram nos EUA (6 a 7% da força de trabalho do Reino Unido). Em 2020, havia 1.256 multinacionais americanas no Reino Unido.

A partir da década de 1980, a Grã-Bretanha tornou-se cada vez mais o que poderíamos chamar de uma “economia rentista”. A maior parte de sua base manufatureira fechou, de tal modo que ela conta principalmente com o setor financeiro da City de Londres e serviços comerciais que o acompanham. Como se sabe, ela fornece um canal para a redistribuição de capital dos xeiques do petróleo do Oriente Médio, oligarcas russos, empresários indianos, assim como oligarcas norte-americanos.

Ao longo desse período, o capitalismo britânico declinou em relação a seus pares entre as economias do G7 e outros grandes Estados europeus. Mas, particularmente após a Grande Recessão, e após a decisão de deixar a União Europeia e as pandemias de COVID, a economia britânica entrou em uma espiral descendente que até agora não conseguiu parar. O crescimento real do PIB ainda está mais de 20% abaixo da tendência anterior a 2008 – embora esse recuo se aplique a todas as economias do G7, embora a uma taxa menor.

A economia do Reino Unido foi a mais atingida das principais economias do G7 no ano de 2020 pela pandemia da Covid. O PIB real caiu 9,9%. O então ministro das finanças e agora primeiro-ministro, Rishi Sunak, admitiu ser a pior contração na renda nacional em 300 anos! O “think-tank” econômico, Resolution Foundation, avalia que a economia do Reino Unido pode não estar em uma “uma recessão técnica, mas, mesmo assim, ela experimenta agora o crescimento mais fraco em 65 anos, numa comparação em que não se considera os períodos recessivos”.

O que também é esquecido é que o crescimento populacional está em sua taxa mais rápida em um século (três quartos impulsionado pela imigração de 6 milhões de pessoas desde 2010). Se o crescimento populacional for excluído, o Reino Unido quase não viu nenhum crescimento econômico. O PIB per capita se encontra apenas um pouco acima do nível de 2007 e o poder de compra real do consumidor está ainda menor do que em 2007.

De fato, o crescimento da produtividade (ou seja, a produção por trabalhador por hora) tem sido desastrosa. O aumento da produtividade desacelerou para menos de 1% ao ano. Antes da crise econômica de 2008-09, a produção por hora trabalhada da Grã-Bretanha crescia constantemente a um ritmo anual de 2,2% ao ano. Na década desde 2007, essa taxa caiu para 0,2%. Se a tendência anterior tivesse continuado, a renda nacional do Reino Unido seria 20% maior do que é hoje.

Ademais, estima-se que a redução comércio entre o Reino Unido e a União Europeia, ocorrida após o Brexit, tal como ficou estabelecido no Acordo de Comércio e Cooperação que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2021, vai prejudicar a elevação da produtividade no longo prazo. Se o Brexit não tivesse ocorrido, esse índice – estima-se – cresceria 4% a mais do que vai crescer agora.

Com efeito, a produtividade do Reino Unido ficou estagnada por uma década. Portanto, agora os níveis de produtividade estão até um terço abaixo dos dos EUA, Alemanha e França: “o trabalhador francês médio alcança na hora do almoço de quinta-feira o que o trabalhador britânico médio alcança apenas no fechamento do expediente na sexta-feira”. De fato, excluindo Londres, o nível médio de produtividade do Reino Unido está abaixo do estado mais pobre dos EUA, o Mississippi.

A diferença de produtividade entre as empresas de melhor e pior desempenho é materialmente maior no Reino Unido do que na França, Alemanha ou EUA. Essa lacuna de produtividade também aumentou muito mais desde a crise – cerca de 2 a 3 vezes mais – no Reino Unido do que em outros lugares. Essa longa e longa cauda de empresas “estacionárias” explica por que o Reino Unido tem uma lacuna de produtividade de um terço em relação aos concorrentes internacionais e uma lacuna de produtividade de um quinto em relação ao passado.

Por que o crescimento da produtividade é tão baixo, especialmente entre as principais grandes multinacionais instaladas na Grã-Bretanha? A resposta é clara: crescimento reduzido do investimento empresarial. Este tem apresentado uma tendência constante de queda desde o final da Grande Recessão.

O investimento total do Reino Unido em relação ao PIB tem sido menor do que a maioria das economias capitalistas comparáveis e vem diminuindo nos últimos 30 anos. O desempenho do investimento do Reino Unido é pior do que qualquer outro país do G7. Em comparação com o Japão, EUA, Alemanha, França, Itália e Canadá, o Reino Unido ficou em último lugar em investimento empresarial em 2022, uma posição agora mantida por três anos consecutivos e por 24 dos últimos 30 anos.

As empresas não estão optando por investir no Reino Unido. Este país ocupa agora apenas um modesto 28º lugar em investimento empresarial entre 31 países da OCDE. Países como Eslovênia, Letônia e Hungria atraem níveis mais altos de investimento do setor privado do que o Reino Unido como porcentagem do PIB.

A natureza rentista do capital britânico é revelada por um relatório feito pelo IPPR: “O investimento corporativo caiu abaixo da taxa de depreciação – o que significa que nosso estoque de capital está caindo – e o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é menor do que em nossos principais concorrentes. Entre as causas estão um sistema bancário que não está suficientemente focado em empréstimos para o crescimento dos negócios e a crescente visão de curto prazo de nosso setor financeiro e corporativo. Sob pressão dos mercados de ações cada vez mais focados em retornos de curto prazo, as empresas estão distribuindo uma proporção crescente de seus ganhos para seus acionistas, em vez de investi-los no futuro.”

Nada confirma mais o declínio do capitalismo britânico e seu fracasso em investir e aumentar a produtividade do que a lucratividade do capital britânico. É uma história de declínio de longo prazo desde a década de 1950. O declínio foi parcialmente revertido por um tempo sob as políticas neoliberais do regime de Thatcher (às custas da participação do trabalho na renda nacional), mas o declínio foi retomado com força total no século XXI.

Como resultado do fraco crescimento da renda nacional e das consequentes medidas de austeridade para conter os salários, o Reino Unido é apenas um dos seis países do bloco de 30 nações da OCDE onde os ganhos após a inflação ainda estão abaixo dos níveis de 2007 e o Reino Unido é a pior das sete principais economias do G7.

Em 2022, o salário real nos EUA e na OCDE aumentou 17% e 10%, respectivamente, do que em 2007, de acordo com dados da OCDE. Na Grã-Bretanha, não mudou. Os padrões de vida do Reino Unido tiveram um desempenho inferior ao da maioria dos países ricos desde que os conservadores entraram no governo em 2010, de acordo com uma pesquisa do Instituto de Estudos Fiscais do Reino Unido.

As políticas de austeridade insensíveis dos conservadores após a Grande Recessão de 2009, cortando serviços públicos e congelando salários, destruíram a rede de segurança social. As taxas de benefícios básicos são agora mais baixas em relação aos salários do que em qualquer momento desde o início do acordo de Beveridge, que estabeleceu o estado de bem-estar social na década de 1940. A proteção básica contra o desemprego no Reino Unido também é a mais baixa da OCDE.

“A espiral inflacionária após o COVID foi a pior do G7. Pode ter diminuído agora, mas o aumento dos aluguéis privados é acentuado e contínuo: quase 9% ao ano. As contas de energia podem agora estar caindo, mas de um pico tão ridículo que ainda estão cerca de 60% acima de três anos atrás. Os alimentos, por sua vez, aumentaram cerca de 30% no mesmo período. O resultado é que uma porcentagem maior de britânicos vive abaixo da linha da pobreza do que na Polônia!”

E essas são médias. A Grã-Bretanha é agora o segundo país economicamente mais desigual dos maiores países desenvolvidos, depois dos EUA: há 50 anos era um dos mais iguais. O Reino Unido tem uma desigualdade de renda muito alta em comparação com outros países desenvolvidos; na verdade, tema 9ª renda mais desigual de 38 países da OCDE. Em comparação com outros países desenvolvidos, O Reino Unido tem uma distribuição de renda pior em comparação como os outros países desenvolvidos. O coeficiente de Gini é de 0,351. O Reino Unido tem um dos níveis mais altos de desigualdade de renda da Europa, embora ainda seja menos desigual do que os Estados Unidos.

A desigualdade de riqueza do Reino Unido é muito mais acentuada do que a desigualdade de renda, com o quinto superior recebendo 36% da renda do país e 63% da riqueza do país, enquanto o quinto inferior tem apenas 8% da renda e apenas 0,5% da riqueza, de acordo com o Office for National Statistics.

O Reino Unido tem as maiores disparidades regionais de salários em toda a Europa. De fato, as pessoas no nordeste da Inglaterra têm um padrão de vida médio inferior à metade do londrino médio. A riqueza também está distribuída de forma desigual pela Grã-Bretanha. O Sudeste é a mais rica de todas as regiões, com uma riqueza familiar média total de 503,4 mil libras, mais do que o dobro da riqueza das famílias no norte da Inglaterra.

Quanto à pobreza e à saúde, dificilmente poderia ser pior em um país considerado como rico. Os cortes no bem-estar causaram 190.000 mortes em excesso de 2010 a 2019. De acordo com o Escritório de Estatísticas Nacionais, a expectativa de vida ao nascer para 2020/22 está “de volta ao mesmo nível de 2010 a 2012 para as mulheres” e “ligeiramente abaixo” dessa referência para os homens – uma década inteira, em outras palavras, de zero ou progresso negativo.

“As áreas mais carentes da Inglaterra”, relatam os demógrafos do governo, registraram “uma diminuição significativa” na expectativa de vida na segunda metade da década de 2010. Olhando para 2040 (e comparando com uma linha de base de 2019), analistas da Universidade de Liverpool e da Health Foundation preveem um aumento de cerca de 700.000 no número de britânicos em idade ativa que vivem com uma doença grave de longo prazo. Ora, isso é fortemente explicado por um novo aumento das taxas já pesadas de dor crônica, diabetes, ansiedade ou depressão, nas comunidades mais pobres.

As taxas de pobreza infantil dispararam. Em 2022/23, o número de crianças que vivem na pobreza aumentou em 100.000, de 4,2 milhões em 2021/22 para 4,3 milhões de crianças. Isso representa 30% das crianças no Reino Unido. A taxa de pobreza infantil no nordeste da Inglaterra aumentou 9 pontos percentuais nos sete anos entre 2015 e 2022. Aumentos substanciais também podem ser vistos em Midlands e no Noroeste.

Tower Hamlets teve a maior concentração de pobreza infantil no Reino Unido em 2021/22, com quase metade das crianças vivendo abaixo da linha da pobreza após contabilizar os custos de moradia. As taxas de pobreza infantil também são altas em outras grandes cidades como Birmingham e Manchester.

O surgimento de ‘bancos de alimentos’ tem sido uma característica dos últimos dez anos. A contagem oficial de pessoas cujas famílias recorreram a esses bancos nos últimos 12 meses é de 3 milhões.

E as famílias com “segurança alimentar muito baixa” agora estão em 3,7 milhões, um total que aumentou em dois terços apenas no ano passado. Note-se que a população total da Grã-Bretanha chega a 64,5 milhões de pessoas.

Uma das maiores conquistas do movimento operário foi o estabelecimento de um Serviço Nacional de Saúde (SNS), gratuito. Depois de 70 anos, este grande serviço público está agora em frangalhos; famintos de fundos, pessoal e serviços cada vez mais reduzidos aos lucros do setor privado. O financiamento do SNS enfrenta o maior corte em termos reais desde a década de 1970, alerta o Instituto de Estudos Fiscais.

O sistema privatizou 60% das operações de catarata para clínicas privadas. Estas receberam £ 700 milhões por operações de catarata de 2018-19 a 2022-23 e 30-40% do dinheiro desaparece nos lucros. E uma nova análise da “We Own It” revela que 6,7 bilhões de libras, ou 10 milhões de libras por semana, deixaram o orçamento do SNS na forma de lucros em todos os contratos privados concedidos, na última década. A análise do “We Own It” mostra que, dos lucros totais de 6,7 bilhões de libras que deixaram o SNS, 5,2 bilhões de libras, ou 78%, estavam em contratos de serviços.

Os britânicos agora têm acesso a menos leitos hospitalares e dentistas em relação à população do que na maioria das outras grandes economias, de acordo com dados da OCDE. E a lista de espera para operações está em um nível recorde.

Depois, há a habitação. Nos 30 anos a partir de 1989, 3 milhões de casas a menos foram construídas do que nos 30 anos anteriores, apesar de um forte aumento na demanda. Esse descompasso entre oferta e demanda contribuiu para uma séria crise de acessibilidade. Em 1997, a relação entre o preço médio da casa e a renda média na Inglaterra e no País de Gales era de 3,6 e em Londres era de 4,0. Em 2023, a casa mediana em Londres custava 12 vezes o salário médio e mesmo na região menos inacessível, o nordeste da Inglaterra, a proporção era de 5,0.

Esse aumento significa que apenas os mais jovens cujos pais – até mesmo avós – eram proprietários agora podem estar razoavelmente otimistas em poder comprar uma habitação. Mas os custos de moradia no Reino Unido em relação à renda são mais altos do que no passado e em comparação com outros países. Os aluguéis aumentaram 13% nos dois anos até maio de 2024 – o ritmo mais rápido em três décadas e três vezes a taxa na França e na Alemanha.

Na Inglaterra, olhando agora para uma outra dimensão da questão da moradia, o número de pessoas que moram na rua aumentou 60% nos últimos dois anos. Ademais, o número de famílias presas em acomodações temporárias (algo bem horrível) dobrou desde 2010.

Quanto à educação, ela também está em apuros. Um sistema educacional sólido apoia o setor de serviços: quase 60% dos britânicos entre 25 e 34 anos são educados pelo menos no nível superior – universitário ou pós-graduado – é o que mostram os dados da OCDE. Esse é o sexto maior entre as economias avançadas. Os alunos na Grã-Bretanha têm melhor desempenho em leitura, matemática e ciências do que seus pares na França, Alemanha ou Itália. Eles também têm acesso a 90 das 1.500 melhores universidades do mundo, de acordo com o World University Rankings anual, mais do que a França e a Alemanha juntas.

Contudo, a pressão agora é por cortes no financiamento escolar e as universidades do Reino Unido caíram nos rankings internacionais, enquanto muitas enfrentam falência e fechamento à medida que os estudantes estrangeiros diminuem. Quanto aos estudantes, veja-se que a Grã-Bretanha deixou de oferecer ensino superior gratuito na década de 1960; ora, esses cursos cobram agora enormes taxas anuais, as quais financiadas por empréstimos que acabam dilapidando a riqueza das famílias.

Depois, há as prisões. Muitas pessoas são presas no Reino Unido de tal modo que as prisões estão ficando sem espaço, dizem os diretores das prisões na Inglaterra e no País de Gales. “Todo o sistema de justiça criminal está à beira do fracasso.” Em vez de colocar os jovens na cadeia, seria melhor encontrar uma outra solução. Mas, dois terços dos centros juvenis financiados pelo conselho na Inglaterra foram fechados desde 2010. Isso porque os conselhos locais sofreram cortes de 20% em termos reais desde 2010, deixando uma lacuna de mais de £ 6 bilhões nos próximos dois anos.

Finalmente, existem os serviços públicos. Fortemente privatizados sob Thatcher, eles se tornaram um desastre para os usuários e uma bonança de lucros para os acionistas. Na Europa, apenas no Reino Unido a água foi privatizada e os proprietários de capital privado dessas empresas de água ordenharam o público por bilhões, enquanto destroem a qualidade da água e do meio ambiente. Em março, foi revelado que o esgoto bruto foi despejado em cursos d’água por 3,6 milhões de horas em 2023 pelas empresas de água privatizadas da Inglaterra, mais que o dobro do número em 2022.

Uma pesquisa do Rivers Trust descobriu que o esgoto foi derramado por 1.372 horas no distrito eleitoral de Guildford no ano passado, e testes recentes de água por ativistas locais encontraram E coli no rio no mês passado em quase 10 vezes a taxa segura nos padrões do governo. Famílias em várias partes do país adoeceram e foram instruídas a não beber água da torneira.

Existem características redentoras nesta Grã-Bretanha quebrada? Yael Selfin, economista-chefe da consultoria KPMG UK, disse que a Grã-Bretanha tem algumas “vantagens duradouras”, como o idioma inglês e o horário de Greenwich, o que significa que o dia útil em Londres se sobrepõe aos mercados financeiros em todo o mundo. Assim, uau!, os britânicos são uma referência no tempo mundial e, ademais, falam inglês!

Financial Time apresentou outro mérito: eis que a Grã-Bretanha tem um primeiro-ministro de origem asiática: “Este não é o único país do Ocidente que elevaria um chefe de governo não branco. Mas vem a ser o único em que isso provocaria tão pouca discussão…. Um milagre silencioso ainda é um milagre.” O homem mais rico do parlamento do Reino Unido é, pois, um milagre britânico!

Em uma entrevista no programa Sunday with Laura Kuenssberg da BBC, o primeiro-ministro Sunak defendeu o histórico de seu partido no governo nos últimos 14 anos. “Aqui é um lugar melhor para se viver do que era em 2010.” Quando lhe foi dito que os britânicos haviam se tornado mais pobres e mais doentes, e que os serviços públicos haviam se deteriorado desde 2010, ele disse: “Eu simplesmente não aceito isso”. Ele pode não aceitar, mas ainda assim essa é a realidade.

Paul Dales, economista da empresa de pesquisa Capital Economics, achou a solução: “Mais investimentos em habitação, infraestrutura, educação e saúde ajudariam a transformar alguns dos pontos fracos em pontos fortes”. Bem, ao fim e ao cabo, essa recomendação de política econômica me derrubou!

Michael Roberts é economista. Autor, entre outros livros, de The great recession: a marxist view (Lulu Press) [https://amzn.to/3ZUjFFj]

Tradução: Eleutério F. S. Prado.

Publicado originalmente em The next recession blog.

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Por Michael Roberts, no A Terra é Redonda | Outras Palavras
Data original de publicação: 05/07/2024

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