Seminário organizado pela ABET e UnB discutiu atual conjuntura política e desafios impostos aos trabalhadores
Por Laura Valle Gontijo/ Bolsista ABET
Na última quarta-feira, dia 11 de maio, ocorreu o Seminário “Terra em Transe: Lula 3 e as lutas sociais”, organizado pelos Programas de Pós-Graduação em Sociologia e em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural da Universidade de Brasília em conjunto com a Associação de Estudos do Trabalho (ABET).
O evento contou com uma Mesa de Abertura, com o professor Ricardo Festi do Programa de Sociologia da UnB e o professor Jörg Nowak do Programa de Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural da Faculdade UnB Planaltina. Ambos falaram da importância de se debater a atual conjuntura política brasileira para se pensar os futuros do trabalho e das lutas sociais nesse novo cenário.
Às 9 horas, foi realizada a Mesa “As mutações do neoliberalismo e as lutas sociais”, na qual o Diretor do Sintrajud/SP e da Fenajufe Fabiano dos Santos enfatizou a importância dos trabalhadores lutarem em defesa de seus direitos sociais, até mesmo para auxiliar o novo governo Lula nos enfrentamentos com a direita e o conservadorismo.
O professor de Relações Internacionais Roberto Goulart Menezes destacou as heranças do governo anterior que têm trazido enormes desafios, como a questão da independência do Banco Central e sua imposição, à revelia do governo, de uma taxa de juros abusiva.
A professora do Departamento de Sociologia Jaqueline Moraes Teixeira abordou a estreita relação entre as Igrejas evangélicas e a ideologia do “empreendedorismo” difundida pelo neoliberalismo. Teixeira destacou como as mulheres negras, evangélicas e chefes de família, tradicionalmente vivendo na informalidade, são o principal alvo dessa ofensiva do conservadorismo na atualidade.
A Mesa foi seguida pela exibição do filme “Peões”, de um dos mais importantes documentaristas brasileiros, o cineasta Eduardo Coutinho. O filme retrata as greves do ABC, o surgimento do novo sindicalismo, a criação do PT e a emergência de Lula como líder sindical.
Às 14 horas, a Mesa “Formas precárias de trabalho e a perda dos direitos sociais” contou com os debatedores: a Professora do Direito e Presidente da ABET Renata Dutra, o Professor da Sociologia e Emérito da UnB Sadi Dal Rosso e Abel Santos, representante dos entregadores do Distrito Federal. Dutra destacou três questões que para ela são importantes na atual conjuntura: a revogação da reforma trabalhista e da lei da terceirização e a regulação do trabalho em plataformas digitais, garantindo os direitos trabalhistas previstos na CLT a esses trabalhadores.
Sadi Dal Rosso abordou dados recentes de pesquisa coordenada por ele a partir de dados da PNAD-C, na qual constatou um acréscimo na jornada de trabalho realizada pelos trabalhadores brasileiros e do Distrito Federal entre 2012 e 2019, mostrando que há uma maior extração de mais valor do trabalho na atual conjuntura. Abel Santos abordou as dificuldades que os entregadores de aplicativo têm enfrentando no debate atual em torno da regulação do trabalho em plataformas digitais e enfatizou que as 40 horas semanais que o trabalhador celetista faz em uma semana, o trabalhador em aplicativo faz em apenas três dias, com consequências deletérias para sua saúde.
O Seminário encerrou com a Mesa “Trabalho na agricultura: Sanozalidade e trabalho temporário”, que contou com a participação do professor associado da Faculdade UnB Planaltina Mauro Eduardo del Grossi, o professor do PPG-Mader e CDS, Sérgio Sauer, a vice-presidente da ADUnB, Eliene Novaes, com moderação de Regina Coelly Saraiva, também professora do campus de Planaltina.
Del Grossi apresentou dados sobre o impacto dos avanços da tecnologia no campo brasileiro. A agricultura aumentou sua produção de 54 milhões de toneladas, em 1985, para 247 milhões, em 2021, empregando 2 milhões a menos de trabalhadores, mostrou o professor. Em seguida, o professor Sérgio Sauer analisou a questão do extrativismo agrário e as formas de produção. Por fim, os debatedores discutiram os desafios colocados para os trabalhadores na atual conjuntura.
O evento foi um sucesso e uma forma de celebrar o Dia Internacional dos Trabalhadores, que ocorre em 1º de maio, com uma discussão sobre a importância de retomada das lutas sociais para garantir direitos tão arduamente conquistados pelos trabalhadores brasileiros ao longo de décadas.