Trabalho infantil prejudica desenvolvimento, reduz renda e está ligado à escravidão: ‘Não é vender brigadeiro
Por Luís Eduardo Gomes
“Em setembro de 2016, a Justiça do Trabalho de Santa Catarina manteve a condenação do Grupo JBS por utilizar o trabalho terceirizado de adolescentes em aviários. Eles eram contratados de forma irregular para “apanhar” frangos com as mãos e colocar dentro de caixas a serem transportadas em caminhões até frigoríficos, sendo expostos a agente biológicos nocivos e outros riscos, além de atuarem no período da noite. Em novembro de 2014, o Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT-RS) flagrou crianças e adolescentes de 11 a 14 anos trabalhando em uma fábrica de botões de pressão em Caxias do Sul. No local, eram submetidos à proximidade de produtos tóxicos e corrosivos, além de não contarem com equipamentos de segurança. Em agosto de 2015, oito jovens de 13 a 15 anos foram encontrados realizando atividades perigosas, manipulando substâncias tóxicas e operando máquinas, sem proteção, em uma empresa terceirizada do setor calçadista em Rolante (RS).
Esses são alguns casos de trabalho infantil acessíveis em uma busca rápida na internet. Contudo, na transmissão ao vivo que fez pelas redes sociais no dia 4 de julho, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) defendeu o argumento de que trabalhar quando criança não é algo prejudicial. ‘Olha só, trabalhando com 9, 10 anos de idade na fazenda, não fui prejudicado em nada. Quando algum moleque de 9 ou 10 anos vai trabalhar em algum lugar, está cheio de gente aí (falando) ‘trabalho escravo, não sei o que, trabalho infantil’. Agora, quando está fumando um paralelepípedo de crack, ninguém fala nada. ‘Então trabalho não atrapalha a vida de ninguém’, disse o presidente, que ao menos afirmou que não apresentaria um projeto de liberação do trabalho infantil porque seria ‘massacrado’.
A fala prontamente gerou reação negativa pelo seu claro absurdo. Contudo, também motivou apoiadores do governo a saírem em defesa da liberação do trabalho infantil relatando supostas experiências próprias de trabalho na infância. Um dos casos mais notórios foi o da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), que postou em sua conta no Twitter que, aos 12 anos, vendia brigadeiros na escola. ‘E o mais interessante era que eu não precisava, mas eu sentia uma enorme satisfação de pagar as minhas aulas de tênis com esse dinheiro. Eu me sentia criativa e produtiva’, disse.
Especialistas em estudar e combater o trabalho infantil ouvidas pelo Sul21 destacam que a frase da deputada é um exemplo da confusão que se faz sobre o trabalho infantil, que é comparar atividades que não afetam o desenvolvimento de crianças e adolescentes com outras que impõem jornadas de trabalho fixas, por vezes exaustivas, em condições insalubres e que acabam por dificultar ou até impedir a permanência na escola. Elas explicam que as primeiras não são alvos de proibição, denúncias, investigações e de campanhas de combate ao trabalho infantil.”
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Fonte: Sul21
Data original de publicação: 14/07/2019