Um mergulho profundo na saúde mental das mulheres
Por Lab ThinkOlga
Mais de 1 bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental ou causado pelo uso de substâncias antes da pandemia. Mais da metade eram mulheres. Só no Brasil, 7 em cada 10 pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade eram mulheres.
A covid-19 agravou esse quadro e as sequelas dessa crise sem precedente permanecem, sobretudo na saúde mental das mulheres.
Para entender esse contexto, perguntamos às brasileiras quais aspectos da vida têm gerado sofrimento e insatisfação atualmente — e de que forma elas cuidam da própria saúde mental.
Os números assustam, mas não surpreendem.
Quase metade (45%) possui um diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum outro transtorno mental.
E, assim como outras estatísticas e pesquisas já demonstraram historicamente, são as mulheres negras as que vivenciam maior sofrimento com essas condições.
A boa notícia é que 91% das entrevistadas afirmam que a saúde emocional deve ser levada
muito a sério, e 76% estão buscando prestar mais atenção a isso, principalmente após a pandemia.
O que é importante para as mulheres, é importante para nós, da Think Olga. Com a pesquisa “Esgotadas: o empobrecimento, sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres”, nos debruçamos sobre a saúde mental da população feminina, reafirmando nosso compromisso em jogar luz nos problemas enfrentados por elas.
Como afirmamos em nosso manifesto: temos a convicção de que não há futuro possível se o sofrimento e o adoecimento das mulheres não forem cuidados imediatamente.
Dados de uma pesquisa global de 2019 mostraram que:
49 milhões de pessoas viviam com algum tipo de transtorno mental ou por uso de substâncias no Brasil.
53% delas eram mulheres
Isso significa que a cada 100 mulheres brasileiras, 19 tinham algum tipo de transtorno mental ou por uso de substâncias. A proporção mundial é de 13,3 a cada 100.
Ainda de acordo com esse estudo, as mulheres representavam quase dois terços das pessoas com transtornos de ansiedade e depressão, enquanto os homens eram maioria entre os transtornos causados por uso de álcool e outras drogas.
Esse cenário era uma realidade pré-pandêmica.
A partir de 2020, a crise sanitária teve um impacto brutal na saúde mental das pessoas em razão do isolamento, das incertezas, da instabilidade econômica, do medo, do luto e de um sofrimento coletivo imenso ao redor do mundo.
Um estudo publicado na revista científica Lancet mostrou que a prevalência global de transtornos de ansiedade e depressão aumentou significativamente já em 2020, primeiro ano da pandemia. De acordo com esse dados, 67% dos novos casos de transtornos depressivos e 68% dos novos casos de transtornos de ansiedade foram registrados em mulheres, com maior prevalência entre as faixas de 20 a 40 anos para depressão, e de 15 aos 40 anos para ansiedade.
O agravamento do sofrimento psíquico gerado pela pandemia evidenciou a necessidade e a urgência de se falar sobre o assunto. Por isso, entrevistamos 1.078 mulheres com mais de 18 anos de todas as classes e de todas as regiões do país para termos um retrato de como estão as mulheres brasileiras.
As entrevistas foram feitas online, com o apoio de um questionário, entre os dias 12 e 26 de maio de 2023. A margem de erro é de 3 pontos percentuais e o intervalo de confiança é de 95%.
Das entrevistadas, quase metade (45%) das mulheres responderam que já foram diagnosticadas com algum transtorno mental.
Esse adoecimento psíquico das mulheres não pode ser desvinculado do contexto social e cultural em que vivem.
As estruturas de opressão como o machismo, o racismo e a exclusão econômica e social têm um papel crucial nessa matemática.
Ao longo da história, a norma imposta às mulheres esteve por muito tempo associada ao comportamento masculino. A psicologia e a psiquiatria foram forjadas nesse contexto, levando grande parte dos comportamentos de mulheres — muitos deles eram efeito das condições de opressão impostas a elas — a serem tratados como doenças. Assim como efeitos comuns produzidos pelas alterações hormonais dos períodos pré-menstruais, puerpério e menopausa, que foram estigmatizados como problemas psíquicos.
Uma perspectiva apenas biológica nos privaria de levar em consideração o peso das disparidades de gênero no adoecimento mental de mulheres e de homens.
A própria OMS reconhece a influência do gênero nas diferenças de poder e controle que homens e mulheres têm sobre os determinantes socioeconômicos, bem como na posição social e no tratamento que recebem da sociedade e, consequentemente, na sua saúde mental.
As desvantagens sociais associadas ao gênero feminino, como a maior exposição à violência doméstica e sexual, oportunidades educacionais e de emprego limitadas e mais responsabilidades de cuidado, podem explicar o aumento da incidência de transtornos mentais entre as mulheres.
Falar de saúde mental precisa abarcar os determinantes sociais como acesso à educação, habitação, alimentação, renda digna, emprego, transporte, cultura, entre outros.
Fonte: Lab ThinkOlga
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