Uma Poliana na Tecnologia

Foto: PretaLab

Por Juliana Domingos de Lima | ECOA UOL

Em 2022, a PretaLab, um projeto voltado à inclusão de mulheres negras nas áreas de tecnologia e inovação, completa cinco anos de existência. Elas ainda são minoria nas empresas de tecnologia do Brasil — correspondem a 11%, segundo o relatório mais recente divulgado pela PretaLab, mesmo sendo 28% da população brasileira.

Mas houve avanços nesse tempo: o projeto conseguiu mapear e conectar centenas de mulheres negras que atuam na área, dando a elas maior visibilidade e tornando esse campo de atuação uma possibilidade para aquelas que não se enxergavam trilhando um caminho na tecnologia. Ofereceu palestras, formações e oportunidades de trabalho para mulheres negras em tecnologia e pautou, junto a empresas e organizações, a urgência de ter mais representantes delas na área para a construção de tecnologias melhores e menos enviesadas.

Tudo isso nasceu do incômodo da jornalista carioca Silvana Bahia com a falta de mulheres como ela nos espaços de tecnologia e inovação. A idealizadora da PretaLab também é uma das diretoras executivas do Olabi, ONG voltada à transformação social por meio da democratização das tecnologias, e, como muitas, jamais se imaginou ocupando esses lugares.

Silvana nasceu na Lapa, no centro do Rio, filha de uma empregada doméstica e costureira afroamazônica com um músico negro. Viveu parte da adolescência no Capão Redondo, em São Paulo, depois de sua mãe ficar viúva.

Com o estímulo de professores e o apoio da mãe, que sempre a incentivou a estudar e ser uma mulher independente, Silvana trilhou o caminho que a levou à criação da PretaLab em 2017.

Com a benção de Jurema

Em 2016, Silvana Bahia foi convidada a falar de um projeto de comunicação no Festival Latinidades, encontro de artistas e intelectuais negras em Brasília. Mas ela também queria apresentar para o público do evento, pela primeira vez, sua criação mais recente: uma iniciativa voltada à inserção de mulheres negras na área de tecnologia.

Foi ali, diante de uma plateia formada por intelectuais negras que ela admirava, como Sueli Carneiro, Cida Bento e Jurema Werneck, que a PretaLab deixou de ser uma ideia para ganhar impulso e concretude.

“Eu estava muito nervosa, com muito medo de falar besteira, de ser rechaçada. Ficava pensando: são tantas as mazelas das mulheres negras e eu aqui querendo falar de tecnologia”, conta a Ecoa.

Para sua surpresa, a resposta foi positiva. Depois da apresentação, ela conversou com a médica e ativista pelos direitos humanos Jurema Werneck, que a parabenizou e tranquilizou. Disse que o projeto era importante e que as mulheres negras precisavam estar dentro da tecnologia, que não era possível esperar que todas as “mazelas” fossem resolvidas para pensar nisso.

“Quando a gente começou a desenhar o que seria a PretaLab, algumas pessoas falavam que não ia dar certo, que era o recorte do recorte e ser uma mulher em tecnologia já era muito difícil”, diz. “E eu falava: vamos ter que esperar as mulheres brancas se inserirem para depois inserir as negras? Por que não chega todo mundo junto?”

Assim, ainda em 2017, o projeto colocou em prática suas primeiras ações: um mapeamento das mulheres negras que já atuavam na área no país e uma série de vídeos com profissionais negras que tinham um trabalho reconhecido em tecnologia e inovação.

Alguém parecida comigo

A proposta da PretaLab de inspirar mulheres negras a se enxergarem trabalhando com tecnologia bateu forte em uma advogada recifense que buscava encontrar seu caminho profissional.

Isabelle Lemos tinha interesse em tecnologia, mas nunca havia considerado seguir uma carreira na área, algo que atribui ao sexismo e ao racismo. Em busca de mulheres que se parecessem com ela nos campos da ciência, tecnologia e inovação, caiu em um dos vídeos lançados pela PretaLab.

Ela ainda lembra uma fala de Silvana: “se o mundo é cada vez mais digital e a gente está fora disso, perdemos muito poder de intervenção no mundo”. “Aquilo se conectou muito com o meu coração, com a minha verdade”, diz Lemos.

Ela decidiu cursar uma especialização em direito digital e, em 2019, passou a integrar a rede da PretaLab, participando de cursos, palestras e podendo trocar experiências com mulheres negras que já atuavam na área.

Além da bagagem técnica, o ambiente de pertencimento e acolhimento e as referências que encontrou ali foram fundamentais. Hoje, Lemos é analista de inovação do Porto Digital, parque tecnológico localizado no centro da capital pernambucana.

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Fonte: ECOA UOL

Data original de publicação: 21/03/2022

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