Você boicota empresas que exploram trabalho escravo? Então veja como é feita a carne
Por Aline Baroni
Uma pergunta muito frequente que lemos e ouvimos nas redes sociais é “por que se preocupar com animais quando tem tanta gente passando necessidades?”. Isso para não falar sobre inúmeras pessoas culpando os trabalhadores de fazendas e frigoríficos pela morte dos animais. Nós precisamos falar sobre isso.
Que a indústria da carne é cruel com animais, todos já sabem. Porém, os trabalhadores também são duramente explorados nesse setor econômico. Uma das provas é que a maior parte das pessoas mal aguenta passar um ano trabalhando em frigoríficos.
Uma pesquisa publicada na revista científica Saúde e Sociedade, da Universidade de São Paulo (USP), analisou dados do estado de Mato Grosso durante cinco anos e mostrou que 58,1% dos trabalhadores do setor permaneceram no emprego por um período de no máximo um ano, o que representa uma rotatividade muito mais alta do que em outras atividades econômicas. Isso acontece por uma combinação de baixos salários e terríveis condições de trabalho.
Uma força-tarefa realizada em 2015 pelo Ministério Público do Trabalho descobriu que, em uma unidade de abate de frango da JBS no Paraná, 52,9% dos trabalhadores tomaram remédios ou aplicaram emplastos ou compressas para poder trabalhar em um período de 12 meses. Além disso, 38% disseram sentir dor forte na realização de suas atividades e 75,4% dos trabalhadores relataram sentir frio durante a realização de suas atividades.
O trabalho é repetitivo e exaustivo. Para a desossa de frango, por exemplo, é comum que sejam feitos até 90 movimentos por minuto, e isso se repete por horas, dias e meses. Isso tudo expondo pessoas a frio, ruído, posturas inadequadas, amputações, umidade, deslocamento de carga em excesso, exposição à amônia, vasos de pressão, e jornadas exaustivas.
Essa mesma força-tarefa descobriu que a JBS fazia os funcionários trabalharem acima do limite legal diário: foi encontrada uma média de 2.500 jornadas acima do limite legal por mês e algumas pessoas chegaram a trabalhar 18 horas seguidas por dia. Segundo o Ministério Público do Trabalho, a JBS não permitia ao trabalhadores descansarem um tempo mínimo de 11h entre as jornadas e nem terem o descanso semanal remunerado de, no mínimo, 24h.
Acidentes de trabalho infelizmente são extremamente comuns. Segundo dados do INSS, a criação e abate de animais foi a causa de mais de 20 mil acidentes de trabalho no Brasil em 2015 e está, junto com trabalhos como a construção civil, transporte rodoviário e atendimento médico, entre as atividades econômicas mais arriscadas para os trabalhadores.
Não é à toa que cada vez mais sejam encontrados imigrantes haitianos e africanos e pessoas em situação de vulnerabilidade, com baixa escolaridade, exercendo essas funções. Em 2016, a pecuária foi a atividade da qual mais se resgataram trabalhadores em situação análoga à de escravo no Brasil: de 965 resgatados, 214 trabalhavam no setor. São atividades que ninguém quer realizar, e só a faz quem está em uma situação de extrema necessidade.
Quando uma empresa não tem misericórdia pelos animais, dificilmente ela também terá por humanos.
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Fonte: Mercy for animals
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Data original de publicação: 28 de março de 2018