Greve na Apple da Austrália anima sindicalistas nos EUA e na Europa
Por Yan Zhuang | Folha de São Paulo
Dezenas de trabalhadores da Apple na Austrália abandonaram o trabalho na terça-feira (18) depois que negociações sobre salários e condições de trabalho chegaram a um impasse, o que representa a mais nova brecha na couraça da gigante da tecnologia, que está diante de um movimento de sindicalização que vem ganhando força nos Estados Unidos e Europa.
A greve em questão é pequena. Cerca de 150 trabalhadores de varejo, entre os quase quatro mil empregados da Apple na Austrália, votaram a favor de uma paralisação de uma hora. Em seguida, a partir da quarta-feira (19), eles se recusarão a fazer diversos de trabalhos, entre os quais instalação de protetores de tela, consertos de AirPods e manuseio de entregas.
Mas a greve é importante em termos simbólicos. Depois de anos de harmonia trabalhista, os empregados de varejo da Apple nos Estados Unidos conseguiram superar a resistência da empresa e se mobilizaram em uma onda de protestos na era da pandemia, parte de uma expansão mais ampla dos esforços de organização trabalhista em cadeias de varejo, restaurantes e empresas de tecnologia.
Em junho, uma loja da Apple em Towson, Maryland, se tornou a primeira da empresa nos Estados Unidos a se sindicalizar, com os trabalhadores afirmando que queriam mais voz quanto a remuneração, horários de trabalho e estrutura de carreira. No mesmo mês, uma loja da Apple no Reino Unido também se sindicalizou pela primeira vez. Uma segunda loja, em Oklahoma City, votou por se sindicalizar, na sexta-feira, e líderes sindicais disseram que trabalhadores em mais de duas dezenas de lojas da Apple no país haviam expressado interesse em formar sindicatos.
Diante de uma loja da Apple no estado australiano da Nova Gales do Sul, terça-feira, cerca de duas dúzias de trabalhadores carregavam cartazes em que pediam finais de semana livres e “uma mordida da maçã”.
Líderes sindicais na Austrália, onde greves no setor de varejo são raras, disseram ter sido energizados pela atividade trabalhista nos Estados Unidos.
A greve é “um exemplo importante de sindicatos estabelecendo uma presença em uma indústria ou ambiente de trabalho, como o de uma gigante da tecnologia, em que isso não tinha acontecido até agora, aqui ou nos Estados Unidos”, disse Anthony Forsyth, professor de direito do trabalho na Universidade RMIT, em Melbourne.
É digno de nota que na Austrália “haja um sindicato que está pressionando a Apple com muito mais força e chegando um pouco mais longe do que aquilo que vem acontecendo nos Estados Unidos”, ele disse.
Na Austrália, a Apple ofereceu aos trabalhadores um piso salarial 17% acima do mínimo do setor, o que representaria remuneração por hora de pelo menos US$ 17,35 (27,64 dólares australianos, R$ 91,41).
Os três sindicatos envolvidos nas negociações rejeitaram a proposta e acusaram a Apple de tentar forçar uma votação apressada.
O acordo equivaleria a “um corte salarial, na prática”, devido à inflação, de acordo com um dos sindicatos, a Shop, Distributive and Allied Employees Association. A organização também acusou a Apple de obstruir as organizações sindicais quando estas procuravam conduzir pesquisas junto aos trabalhadores em preparação para as negociações, uma tática comum nos Estados Unidos, mas menos usada na Austrália.
Embora todos os três sindicatos estejam negociando com a Apple, somente o Retail and Fast Food Workers Union decidiu fazer greve, depois que seus membros votaram a favor da ação na semana passada.
O sindicato está exigindo um pagamento mínimo de 31 dólares australianos por hora, semelhante ao que os funcionários da empresa nos EUA recebem. A organização também está buscando garantias de que os trabalhadores receberão dois dias consecutivos de folga por semana, bem como o direito dos trabalhadores de tempo parcial a estabelecerem seus dias e horários de trabalho.
Os funcionários não influenciam muito a sua programação de horários, o que torna difícil ter uma vida fora do trabalho, disse Josh Cullinan, o secretário nacional do sindicato.
A Apple rejeitou a afirmação de que tentou apressar a conclusão de um acordo. A empresa diz que seus trabalhadores em tempo parcial têm o direito de especificar quatro dias ou mais de disponibilidade por semana e que são avisados com duas semanas de antecedência sobre os horários.
Um porta-voz da empresa afirmou em um comunicado distribuído via email que a Apple estava “orgulhosa por recompensar os valiosos membros de nossa equipe na Austrália com um forte remuneração e benefícios excepcionais. A Apple está entre os empregadores que melhor pagam na Austrália, e fizemos muitas melhorias significativas em nossos benefícios, que lideram o setor, o que inclui novos programas educacionais e de saúde e bem-estar”.
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Fonte: Folha de São Paulo
Data original na publicação: 18/10/2022