JANEIRO BRANCO (IV): Saúde Mental e a Organização do Trabalho
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Fonte: LinkedIn
Por Bruno Chapadeiro | Professor da Universidade Federal Fluminense
O trabalho no Brasil tem se transformado em um cenário de desgaste silencioso, onde a produtividade é impulsionada pelo esgotamento físico e psíquico. Dados alarmantes revelam a realidade difícil dos trabalhadores: 46% estão insatisfeitos com suas condições laborais, e o Brasil é o 4º país com mais trabalhadores tristes e com raiva, segundo a pesquisa “State of the Global Workplace 2024” da Gallup.
Além disso, a insegurança alimentar atinge mais da metade da população paulistana, exacerbando o desgaste emocional. O impacto do trabalho na saúde mental é tão significativo que, entre 2010 e 2019, os suicídios relacionados ao trabalho aumentaram 60%, especialmente em setores como agricultura, segurança pública e saúde. A medicalização do sofrimento não resolve o problema estrutural que leva à adoecimento.
A nova NR-1, que trata dos riscos psicossociais no trabalho, coloca a responsabilidade sobre os trabalhadores, sem enfrentar a raiz do problema: a organização do trabalho. A síndrome de burnout, que afeta 30% dos trabalhadores brasileiros, é um reflexo de um sistema que explora e esgota suas forças.
O estudo da Oxfam de 2024 evidencia como as desigualdades sociais impactam diretamente a saúde mental. Enquanto 63% da riqueza nacional está concentrada nas mãos de apenas 1% da população, as políticas públicas como o Bolsa Família mostram que transferências de renda podem contribuir positivamente para a saúde mental, especialmente entre os mais vulneráveis.
Iniciativas como o Janeiro Branco, embora importantes, precisam ir além da responsabilização individual do sofrimento. Falar sobre saúde mental sem questionar a estrutura do trabalho apenas naturaliza o adoecimento. É necessário repensar o trabalho como um espaço de criação e solidariedade, onde a coletividade deve ser protagonista na busca por condições mais saudáveis e justas.
Transformar o trabalho em um espaço de bem-estar coletivo, onde a saúde mental seja protegida, é um passo essencial para a construção de um ambiente laboral mais digno e saudável. A luta por essas mudanças deve ser coletiva e urgente.
Fonte: Multiplicadores de Vigilância em Saúde do Trabalhador
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Data original de publicação: 30-01-2025