Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo reforça a luta por dignidade
Conscientização e políticas públicas são essenciais para erradicar essa prática e proteger os direitos humanos
Fundacentro
Em sua 16ª edição, o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo celebrado no dia 28 de janeiro faz um alerta de que ainda homens e mulheres são encontrados em situação análogo à de escravo. De acordo com o Painel de Informações e Estatísticas da Inspeção do Trabalho no Brasil – Radar do Trabalho Escravo da Secretaria de Inspeção do Trabalho – SIT e do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, no Brasil, em 2023, foram resgatados um total de 3.240 trabalhadores, a fiscalização foi realizada no em 598 estabelecimentos urbanos e rurais.
A data reforça a necessidade de conscientização da sociedade, o fortalecimento das leis trabalhistas e o combate firme à exploração de trabalhadores, promovendo dignidade, justiça e igualdade para todos.
A Organização Internacional do Trabalho – OIT, na Convenção nº 29, define trabalho forçado com qualquer atividade ou serviço exigido de alguém sob ameaça de punição, sem que a pessoa tenha concordado. Esse tipo de exploração pode ser praticado por autoridades do Estado, empresas ou indivíduos.
Políticas públicas e Programa Vida Pós Resgate
É fundamental que pessoas que foram resgatadas de condições análogas à escravidão possam contar com uma série de políticas públicas voltadas à sua integração em condições dignas à sociedade. Essas iniciativas têm como objetivo fornecer suporte imediato e criar oportunidades para que as vítimas rompam o ciclo de exploração.
A Fundacentro desempenha um papel essencial no fortalecimento de políticas públicas que combatem o trabalho análogo à escravidão. Nesse contexto, uma das iniciativas mais emblemáticas é o Projeto Vida Pós Resgate, que visa reestruturar a vida de trabalhadores resgatados, oferecendo-lhes alternativas dignas de subsistência e autonomia.
Atualmente, o Projeto Vida Pós Resgate é formado por uma equipe multidisciplinar, resultante de uma parceria entre a Fundacentro, o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, a Universidade Federal da Bahia – UFBA e o Ministério Público do Trabalho – MPT. Participam também outras instituições, como as prefeituras dos municípios, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, onde colaboram em aspectos técnicos dos empreendimentos e na formação dos associados.
O coordenador de projetos da Fundacentro, Vitor Filgueiras, salienta que as parcerias exemplificam como a união entre pesquisa, capacitação e ação prática pode transformar realidades, consolidando um futuro mais justo e seguro para os trabalhadores brasileiros. Ele informa também quais são os avanços e desafios para 2025.
“O início de 2025 marcou novas etapas do projeto Vida Pós Resgate, que busca reinserir trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão em atividades produtivas autônomas. Por meio de visitas técnicas e reuniões realizadas em São Domingos e Monte Santo (BA), professores e técnicos discutiram com associações locais as estratégias para finalização das obras dos apriscos (instalações destinadas ao abrigo de animais, como as ovelhas, que são agrupados e mantidos em segurança para se protegerem de predadores) e o fortalecimento da organização interna dos trabalhadores”.
Atividades Recentes
Desde que a instituição ingressou no programa, começaram as ações de suporte para viabilizar e fomentar associações que garantam condições de vida justas e sustentáveis às pessoas resgatadas. Entre outras atividades, além do fornecimento de insumos e materiais necessários aos empreendimentos, é efetuada orientação aos trabalhadores associados sobre saúde e segurança no trabalho de forma abrangente.
Este mês, em São Domingos, os especialistas Vitor Filgueiras e Nuno Teles conduziram uma reunião com os associados no CREAS para tratar de questões urgentes como a conclusão das obras do aprisco, incluindo a necessidade de finalizar a laje do depósito e garantir a cobertura.
Já em Monte Santo, em visita ao aprisco da associação, os debates se concentraram em temas como a organização dos associados, a chegada de borregos, o fortalecimento da produção de insumos e soluções para o abastecimento hídrico.
“Ontem, 27 de janeiro, a equipe veterinária do Vida Pós Resgate, com o professor Givanildo Silva, o veterinário Vinícius Serafim e bolsista Airlles Santos, estiveram no aprisco para a identificação dos animais, vacinação, pesagem e orientações sobre manejo e sanidade dos animais e dos associados”, informa Filgueiras.
Importância do Vida Pós Resgate
Filgueiras salienta que o projeto busca garantir condições de vida dignas para trabalhadores resgatados, promovendo a emancipação econômica e a autonomia em bases ecológica e socialmente sustentáveis. Ao fomentar a agricultura familiar e o trabalho coletivo, o Vida Pós Resgate se consolida como uma política pública inovadora que:
- Reduz o êxodo rural: Ao estimular a permanência dos trabalhadores em suas localidades de origem.
- Promove segurança alimentar: As associações garantem alimentos saudáveis para produtores, comunidades locais e até escolas públicas por meio de compras institucionais.
- Fortalece economias locais: A produção rural dinamiza mercados e gera impactos positivos em outras cadeias produtivas.
- Incentiva a sustentabilidade: Os sistemas produtivos são exemplos de uso consciente dos recursos naturais.
“Além disso, o projeto pretende oferecer um caminho para trabalhadores urbanos ou aqueles que não desejam continuar no campo, por meio da inclusão em editais de contratação de serviços públicos, como em precedente já realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)”, esclarece.
Desafios e Perspectivas
“A implementação do Vida Pós Resgate exige superação de desafios como a falta de experiência em trabalho coletivo e o engajamento consistente dos trabalhadores. Apesar disso, o projeto tem potencial para consolidar a autonomia dos trabalhadores, contribuir para a justiça social e transformar a agricultura familiar em um motor de desenvolvimento econômico e sustentável”, frisa Vitor.
Completa que “o caminho é longo, mas o impacto social e econômico do Vida Pós Resgate promete ser um divisor de águas no combate à vulnerabilidade social e ao trabalho análogo à escravidão”.
Futuro
Desde 1995, mais de 60 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão no Brasil, sem sinais de redução dessa prática. Um estudo da OIT (2011) revelou que 59,7% dos resgatados já haviam passado por essa experiência anteriormente. A recorrência evidencia um ciclo de exploração sustentado pela vulnerabilidade social das vítimas, ressaltando a necessidade urgente de políticas públicas eficazes de assistência.
Por essa razão, as campanhas educativas e ações de sensibilização são algumas das iniciativas essenciais para evitar novas situações e orientar comunidades vulneráveis em risco sobre os direitos do trabalhador e maneiras de denunciar, como exemplo, o Sistema Ipê da SIT/MTE e OIT.
Essas medidas, somadas à fiscalização, são fundamentais para combater o trabalho escravo no país e assegurar que os trabalhadores resgatados possam reconstruir suas vidas com dignidade e justiça.
Desde sua criação, o Projeto visa se estabelecer de forma duradoura e como uma política pública contra o trabalho análogo à escravidão. O gerente de projetos da Fundacentro informa que para que possa persistir e atingir um maior número de trabalhadores são imprescindíveis a continuidade das destinações de danos morais coletivos e o seu suporte de outras instituições, como a participação das prefeituras, a ampliação da equipe central do projeto e o compartilhamento de servidores (as) entre instituições públicas parceiras.
Acompanhe a jornada do Programa Vida Pós Resgate:
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Fundacentro e Ministério Público do Trabalho atuarão conjuntamente no Projeto Vida Pós Resgate
Trabalho Legal – Vida Pós-Resgate
Trabalho Análogo à Escravidão: projeto apoia recomeço de resgatados
Texto:
Débora Maria Santos
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Publicado em 28/01/2025