Pelo “direito” de explorar: a retórica do novo é o velho chicote contra os trabalhadores. Entrevista especial com Vitor Figueiras
Por Ricardo Machado | Instituto Humanistas Unisinos
Em seu novo livro É tudo novo, de novo, pesquisador da UFBA mostra como as empresas, sob o discurso da inovação, têm, na verdade, criado mecanismos de manter o velho capitalismo exploratório em voga
Uma pesquisa divulgada em novembro pela Austin Rating, agência internacional de avaliação de risco, coloca o Brasil como o quarto país do mundo com maior desemprego, com uma média que é o dobro da mundial. Em termos concretos, o terceiro trimestre de 2021 somou 14,8 milhões de pessoas da população economicamente ativa desempregadas, fora os desalentados, aqueles que sequer procuram trabalho. Todos esses elementos formam a tempestade perfeita para que os empregados sejam esmagados pelas necessidades mais básicas e tolerem, por falta de opção, condições aviltantes de empregabilidade que vêm sempre maquiadas pelo discurso do “novo”.
“O verniz do ‘novo’ pretende convencer as pessoas de que não há assimetria capital-trabalho, de que proteger os trabalhadores é prejudicial a eles mesmos, de que cada indivíduo é capaz de resolver o problema do desemprego”, aponta o professor e pesquisador Vitor Filgueiras, em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisnos – IHU para falar de seu livro recentemente lançado É tudo novo, de novo (São Paulo: Boitempo, 2021).
“O discurso do empreendedorismo cola por uma série de razões. Uma delas é o fato de que é um discurso que faz alusão a aspirações legítimas da classe trabalhadora”, ressalta Filgueiras. Some-se a isso uma dimensão que, às vezes, é invisibilizada, mas sempre presente. “Relações de trabalho assalariadas são de dominação porque há quem mande e quem obedeça”, explica o entrevistado, o que contextualiza, em muitos casos, o canto da sereia do trabalho por aplicativo, que, por outro lado, é recheado de problemas.
“Os direitos desses trabalhadores de ‘aplicativo’ não são direitos só dessas pessoas, eles impactam a coletividade, portanto, não estão apartados do resto do mundo do trabalho. No momento em que alguém aceita que as pessoas trabalhem sob estas condições, está se afetando todo o mercado de trabalho, porque há uma pressão óbvia das demais empresas pelo ‘direito’ de explorar os outros sob os mesmos termos”, sublinha.
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Fonte: Instituto Humanistas Unisinos
Data original de publicação: 03/01/2022