Quando os trabalhadores realizaram suas próprias Olimpíadas
Por Gabriel Kuhn e Georg Spitaler | Jacobin
A Olimpíada dos Trabalhadores de 1931 em Viena foi impulsionado pelo movimento esportivo dos trabalhadores que representava um contra-modelo pedagógico aos esportes organizados por burgueses e capitalistas. Essas fotos mostram como o movimento dos trabalhadores promoveu a alegria coletiva e o orgulho de classe fora dos portões das fábricas.
Com o início dos Jogos Olímpicos de Verão em Tóquio, vale a pena resgatar, noventa anos atrás, a cultura de esportes alternativos promovida pelo movimento internacional dos trabalhadores quando atingiu um de seus pontos históricos. De 19 a 26 de julho de 1931, o Socialist Workers ’Sports International (SASI) realizou a segunda Olimpíada dos Trabalhadores na Viena” Vermelha” – uma cidade que na época era uma das maiores fortalezas do movimento socialista.
Milhares de atletas de dezoito países se reuniram na capital austríaca para participar de competições em modalidades como atletismo, futebol, esportes militares e até xadrez. Os exercícios de ginástica em massa, desfiles e outros eventos reuniram cerca de 80 mil participantes. Junto com o quarto congresso da Internacional Trabalhista e Socialista realizado na cidade de 25 de julho a 1º de agosto, a segunda Olimpíada dos Trabalhadores constituiu um ponto alto da auto-representação de Viena Vermelha como capital internacional do movimento operário.
A Olimpíada dos Trabalhadores de Viena foi a maior das três Olimpíadas organizadas pelo SASI. O primeiro foi realizado em Frankfurt, Alemanha em 1925, e o terceiro em Antuérpia, Bélgica em 1937. Este último evento foi ofuscado pelos terríveis acontecimentos que se aproximavam no horizonte: as federações desportivas dos trabalhadores na Alemanha e na Áustria, outrora grandes centros do movimento, já havia sido proibido pelos respectivos regimes fascistas desses países. Logo depois disso, estourou a Segunda Guerra Mundial e o SASI se desfez.
A Olimpíada dos Trabalhadores combinou elementos de esporte coletivo e celebração pública. Os eventos em Viena incluíram, entre outras coisas, um festival de massa com 4 mil atletas no renomado Estádio Prater da cidade, contando a história heróica do proletariado internacional. Concluído pouco antes dos jogos, o estádio modernista se tornou um modelo pioneiro para outros estádios em construção no continente. Desde que foi renomeado Estádio Ernst Happel, continua sendo como estádio nacional da Áustria até hoje.
O movimento esportivo dos trabalhadores representava um contra-modelo pedagógico aos esportes organizados por burgueses e capitalistas – tanto os jogos organizados pelo Comitê Olímpico Internacional quanto as ligas esportivas profissionais, como fizeram no futebol. Nessa visão, os danos e os limites impostos à vida da classe trabalhadora pelas más condições de vida e de trabalho deveriam ser contrabalançados pelo desenvolvimento físico individual e pela formação coletiva de uma identidade de classe autoconfiante. Hoje, essas imagens servem como um testamento ao mundo que os primeiros socialistas construíram – tanto para si próprios como para as gerações proletárias que virão.
Sobre os autores
Gabriel Kuhn
é um escritor, tradutor e organizador sindical austríaco que vive na Suécia. Seu último livro é Libertando Sápmi: Resistência Indígena no Extremo Norte da Europa. Ele bloga em lefttwothree.org.
Georg Spitaler
Georg Spitaler é pesquisador da Sociedade Austríaca de História do Trabalho (VGA). Ele é co-curador do “Red Vienna 1919-1934” e co-editor do The Red Vienna Sourcebook.
Clique aqui e acesse a matéria completa
Por Gabriel Kuhn e Georg Spitaler | Jacobin
Data original de publicação: 23/07/2021