Economia de “Bico” prende trabalhadores em existência precária, diz relatório

Imagem: Môsieur J.

Por Alex Hern|The Guardian Tradução: Equipe ABET

Longe de oferecer empregos flexíveis para vidas modernas complexas, empresas de grande porte, como Uber e Deliveroo, prendem cada vez mais trabalhadores em uma existência precária, onde precisam dedicar cada vez mais tempo à plataforma para permanecerem financeiramente estáveis, argumenta um novo relatório.

Confira abaixo a notícia completa

Baseado em pesquisa e colaboração com um grupo de tralhadores de “bico”, o relatório digital da Doteveryone argumenta que a espiral pode ser revertida pela ação do governo – ou pelas próprias plataformas adotando mudanças, que podem ser implementadas rapidamente.

“A economia de plataforma permite um trabalho flexível, mas nem todos se beneficiam igualmente”, disse Catherine Miller, diretora executiva interina do Doteveryone. “As recomendações estabelecidas neste relatório podem acontecer imediatamente e mostram que, ao moldar o futuro do trabalho, a tecnologia pode e deve ser usada com responsabilidade para criar uma sociedade democrática justa, inclusiva e sustentável”.

Os problemas identificados pelo Doteveryone se enquadram em três categorias: falta de segurança financeira, perda de dignidade no trabalho e incapacidade de progredir em uma carreira ou treinamento para abandoná-la.

No que diz respeito às finanças, por exemplo, os trabalhadores destacam que as baixas taxas de remuneração significam flexibilidade, geralmente, porque a única maneira de ganhar o suficiente para viver é trabalhar por mais tempo do que em período integral. “Se você deseja obter o dinheiro, precisa estar disponível sete dias por semana”, disse um trabalhador braçal de Londres.

Trabalhar para qualquer uma das plataformas implica custos ocultos, detalha o relatório. Um motorista da Uber diz: “Faço 60 horas, ganho £ 750. Mas então você tem que deduzir as despesas, cerca de £ 150 em combustível. Posso tirar 600 libras, mas você paga seguro, IVA¹ para carros. Faz quatro semanas que ganhei mais de 400 libras. Você está apenas gerenciando suas despesas e levando de 150 a 200 libras para casa”.

“No começo, escrevi e-mails – e-mails longos – apontando maneiras pelas quais a plataforma poderia funcionar melhor para [trabalhadores]”, diz o relatório citando um mensageiro de 22 anos para uma plataforma de entrega. “Mas percebi que eles não se importam com isso. Se você fizer algum problema para eles, eles simplesmente o despedem ou encontram uma maneira de parar de lhe dar trabalho.”

O desperdício de conhecimento entra no terceiro problema: uma incapacidade de ver uma saída da vida flexível. “Não sei o que vem a seguir, pois não posso continuar trabalhando [de bico], pois não consigo um carro novo quando este morre”, disse um motorista de Stoke-on-Trent², 42 anos. “E não tenho tempo [para pesquisar carreiras alternativas] ou ir à academia – às vezes fico aqui esperando por um trabalho por uma hora e meia!”

Para resolver esses problemas, Doteveryone sugere três políticas importantes que podem melhorar a vida dos trabalhadores: um salário mínimo, que exigiria das plataformas contabilizar os custos adicionais cobrados aos trabalhadores, como custos de combustível para motoristas e benefícios estatutários dos funcionários; modificações no esquema nacional de reciclagem do governo, para facilitar aos trabalhadores “flexíveis” tirar proveito dos cursos oferecidos; e a introdução de novas estruturas de governança nos empregadores para dar aos trabalhadores uma voz maior no design das plataformas.

Mas também existem soluções que os próprios empregadores poderiam oferecer: em vez de exibir ganhos de maneira a “empurrar” os motoristas para mais trabalho, por exemplo, o Uber poderia declarar claramente a renda por hora e permitir que os motoristas rastreiem suas despesas para obter uma imagem verdadeira de quanto qualquer trabalho adicional lhes renderia.

¹O imposto sobre valor agregado, ou IVA, na União Europeia é um imposto geral sobre o consumo de base ampla, calculado sobre o valor adicionado a bens e serviços.

²Stoke-on-Trent é uma cidade do condado de Staffordshire, na região de West Midlands, na Inglaterra.

Acesse aqui o relatório “Better work in the gig economy”

Fonte: The Guardian
Data original de publicação: 29/01/2020

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