Em Tempos de Pandemia, qual futuro do trabalho almejamos?

Imagem: Pixabay

“Por ANAMATRA”

“Em entrevista exclusiva à Anamatra, professora Gabriela Delgado analisa futuro do trabalho pós-pandemia

 “Em tempos de pandemia, qual futuro do trabalho almejamos?”. Esse foi o tema de “live” promovida pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), no último dia 1º/6, com a participação da professora Associada e Pesquisadora da UnB Gabriela Neves Delgado, e a presidente da Anamatra, Noemia Porto.

Na entrevista a seguir, concedida exclusivamente à Anamatra, a professora, pós-doutora em Sociologia do Trabalho pela Unicamp, doutora em Filosofia do Direito pela UFMG, mestre em Direito do Trabalho pela PUC Minas, pesquisadora Coordenadora do Grupo de Pesquisa Trabalho, Constituição e Cidadania (UnB/CNPq), e advogada fala mais sobre o tema.”

Confira abaixo alguns trechos da entrevista

Anamatra: Qual o futuro do trabalho?

Gabriela Neves Delgado: Alguns historiadores dizem, e nessa linha destaca-se Leandro Karnal nas recentes lives em que participa1 , que o futuro é uma espécie de entrecruzamento entre as decisões tomadas no tempo presente, no agora, e o acaso, o inesperado. Ou seja, ao projetarmos o futuro, há, simultaneamente, uma expectativa de que a gestão de riscos e de projetos, no presente, nos leve a um caminho seguro e estável, no futuro. Mas, ao mesmo tempo, a vida nos ensina que há o imponderável, aquilo que não conseguimos prever e controlar.

Dentro do imponderável da vida, muitas vezes, a humanidade passa por vivências de crise.

Toda e qualquer crise (familiar, política, social, trabalhista, por exemplo) promove uma situação de desequilíbrio repentino no ritmo cotidiano2 . Com a crise há, ainda, uma potencialização do estado de dúvida e de incerteza, o que provoca tensão e conflitos3 .

Para Edgar Morin, a crise é um momento de intensificação de incertezas, período que se caracteriza por uma “ambivalência constitutiva”: ou, em razão da crise, criamos “algo novo” com “soluções inovadoras”, ou “somos obrigados a regredir ao passado”. Portanto, para o autor, a crise é uma situação contraditória, que revela em si e concomitantemente, “a possibilidade do melhor e do pior”4 .

Em 2020, o mundo foi atingindo pela pandemia da COVID-19. Leandro Karnal explica que existem três catalisadores (dinamizadores/estimulantes) na história da humanidade, capazes de provocar saltos históricos, acelerando processos que normalmente se modulariam no tempo largo da vida5 . Esses três catalisadores são: guerras, revoluções e epidemias (ou pandemias).

De fato, a pandemia do coronavírus traz consigo um sentido de impermanência e de insegurança inimagináveis na atualidade, além de escancarar a crise de feições sanitária, social e trabalhista que já atingia a humanidade e o Brasil6 .

Para Jerôme Baschet, a pandemia é um fato total, “no qual a realidade biológica do vírus é indissociável das condições sociais e sistêmicas de sua existência e difusão”7 .

Nessa mesma linha, vários cientistas, entre os quais destaca-se Nísia Trindade Lima, atual Presidente da Fiocruz, vão identificar a pandemia do coronavírus como uma “crise humanitária multidimensional”, que coloca em “xeque o modelo civilizatório vigente”8 .

No entanto, é importante ressaltar, na linha das ponderações da cientista, que “o vírus pode de fato atingir a todos, mas a capacidade de proteção e de resposta é diferente num país desigual”9 , como é o Brasil. Ou seja, como a Covid-19 atinge desproporcionalmente os desprotegidos e os vulneráveis, é possível afirmar, como também o fez Judith Butler, que a atual pandemia se apresenta com todas as características da interseccionalidade de classe, gênero e raça10 .

Portanto, é a partir da perspectiva da crise pandêmica que devemos pensar qual será o futuro do trabalho no pós-pandemia

Sem qualquer pretensão de adivinhar ou prever acontecimentos futuros, apenas com base no que temos de realidade hoje, parece-me que existem, pelo menos, dois caminhos: o caminho de manutenção da ordem posta ou o caminho de ressignificação e de disputa por uma nova realidade de mundo do trabalho, com novas configurações e parâmetros humanistas e civilizatórios.

O primeiro caminho levará à intensificação das políticas de austeridade com o agravamento do sistema neoliberal prevalecente. Como resultado, teremos um cenário permeado por mais e maiores vulnerabilidades, desigualdades e desarticulação estatal, com impactos profundos para a classe trabalhadora.

O segundo caminho, em disputa, se concretizará pela construção de uma nova via, com novos parâmetros civilizatórios e humanistas para as relações de trabalho.

É urgente mudar de rumo. É preciso escolher o que a crise fará de nós.

Clique aqui e confira a entrevista completa

Fonte: ANAMATRA
Data original de publicação: 05/06/2020

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