Pago por clique: a promessa de trabalho remoto da era digital se transformou numa servidão contemporânea

Imagem: Pixabay

“Na ânsia de automatizar processos, a indústria de tecnologia criou uma série de trabalhos precários. Seres humanos perdem horas completando tarefas que as inteligências artificiais ainda não executam. Especialistas correm para analisar o impacto social e psíquico dessas mudanças.”

Por Jacqueline Lafloufa| TAB Uol

“‘O trabalho dignifica, valoriza e enobrece o homem.’ Na contramão desse ditado, a tecnologia e a automação sempre tiveram propostas mais lenientes: quando os robôs puderem nos dar uma forcinha, finalmente poderemos trabalhar menos. Basta parar por alguns instantes e reparar nos nossos eletrodomésticos: a máquina que lava a sua roupa, que limpa sua louça, o robô aspirador que remove os detritos do chão.

O avanço tecnológico nos levava cada vez mais perto da vivência do tal ócio criativo proposto pelo sociólogo italiano Domenico de Masi, quando as máquinas passariam a executar os trabalhos menos criativos, mais repetitivos ou perigosos, enquanto para nós, humanos, haveria cada vez mais chance de liberdade e criação.

Para de Masi, poder “curtir” sempre foi privilégio de poucos, mas ele acreditava que, com as novas tecnologias, esse privilégio seria estendido a outras camadas sociais. Hoje, pesquisadores criticam a ingenuidade desse otimismo sobre o futuro do trabalho. Faltava considerar a chance de esse futuro se tornar distópico, assustador, um quadro mais parecido com o que vivemos.

Servos de Apps

Parafraseando Garrincha, faltava também “combinar com os russos”, que no caso atendem pelo aposto de “donos das máquinas”. Nas últimas décadas, vivemos o avanço da transformação digital. Estamos cada vez mais conectados e dependentes dos nossos celulares — 20% dos brasileiros já disseram que preferem perder a carteira ao smartphone, e mais de 40% choram quando perdem o aparelhinho.

Diante desse cenário, era questão de tempo para que as empresas passassem a automatizar e digitalizar também suas atividades e processos, conduzidas na mesma toada apressada de “agir rápido e quebrar coisas”, um lema do Vale do Silício.

Se os céticos alertavam que a substituição de trabalhadores por máquinas e inteligência artificial poderia ser um risco para a organização social do trabalho, executivos e futuristas prometiam um “mundo de novas profissões” associadas à automação. Poucos, porém, se lembraram de questionar quais as condições do tal “trabalho do futuro” — como a crise dos anos 2010 mostrou, não era exatamente mais humano e criativo, mas sim carregado de arrocho econômico e demissões em massa.

A Uberização de tudo

Coincidência ou não, na mesma época em que os números do desemprego no Brasil disparavam — de 6,8% da população, em dezembro de 2014, para 11% em dezembro de 2019 —, novos serviços tecnológicos como a Uber aterrisavam em território nacional.

Apresentada como uma plataforma inserida na economia do compartilhamento, conectando motoristas “ociosos” com pessoas que precisavam se deslocar, logo a Uber se transformou em um serviço de motorista sob demanda. Muitos desempregados viram na empresa uma chance de transformar o ocaso profissional em dinheiro, ainda que pouco. Era o início da plataformização do trabalho, que tem ganhado mais força com a popularização dos aplicativos de entrega como iFood e Rappi.

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Fonte: TAB Uol
Data original de publicação: 03/02/2020

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