SÃO PAULO, SP, 17.12.2023. Movimentação de passageiros no terminal de ônibus Tatuapé no primeiro dia de tarifa zero em ônibus da capital. (Foto: Zanone Fraissat/ Folhapress)

O estudo para a Tarifa Zero já existe, presidente



Por Clarisse Cunha Linke, Daniel Caribé e Roberto Andrés | piauí



Interesse de Lula no tema pode fazer avançar projetos que estão no Congresso




Em reunião ministerial no fim de agosto, Lula pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, um estudo sobre os custos de implantar a gratuidade do transporte público urbano em todo o país. 

Hoje o Brasil vive um boom de Tarifa Zero. Já são 138 cidades com gratuidade do transporte todos os dias – número que cresce 32% ao ano. Cada vez mais cidades médias, com população entre 100 mil e 500 mil habitantes, adotam a política, o que faz com que a população atendida aumente numa taxa ainda maior, de 50% ao ano. Atualmente, são mais de 8 milhões de brasileiros vivendo em cidades com Tarifa Zero.

Os resultados são inequívocos: a Tarifa Zero melhora a vida da população. Os mais beneficiados são os mais pobres, que passam a fazer deslocamentos antes impedidos pelo custo. Mais gente acessa postos de saúde, escolas, supermercados, parques e praças. O dinheiro que ia para a passagem vai para o comércio local, que aumenta as vendas. Como muitos migram dos carros para os ônibus, o trânsito diminui. 

Um estudo da FGV publicado em fevereiro deste ano comparou 57 cidades com Tarifa Zero com outras 2.731 que ainda cobram passagem. A gratuidade dos ônibus resultou em aumento de 3,2% de empregos, aumento de 7,5% no número de empresas e redução de 4,2% de emissão de gases poluentes. São Caetano do Sul (SP) implantou a Tarifa Zero e viu o trânsito reduzir, com a retirada de 1.500 carros das ruas por hora, segundo monitoramento feito em parceria com Google e Waze. Nove em cada dez prefeitos que implementaram a medida foram reeleitos em 2024. 

Lula está correto em entrar no tema. O governo federal tem muito a contribuir com uma política que beneficia os mais pobres, reduz impactos ambientais, melhora a qualidade do ar e é bem avaliada pela população. E a boa notícia é que o cálculo solicitado a Haddad já existe: trata-se do estudo Vale-transporte: visão geral e passos possíveis para seu financiamento público, lançado no Congresso Nacional em julho de 2023. 

Oestudo propõe uma fonte de financiamento que não disputa os recursos existentes do governo e tampouco cria novos tributos. A solução passa pela mudança na forma de contribuição das empresas, com grande potencial de aumento de arrecadação. 

Hoje, apenas uma parte dos empregos formais no Brasil contribui com o Vale Transporte, pois a política é opcional para os empregados e deixa de ser vantajosa para salários médios e altos. A conta fica nas costas dos trabalhadores mais pobres, que contribuem com até 6% dos seus salários, e dos informais, que pagam a tarifa “cheia” em seus deslocamentos. 

A proposta do estudo substitui o Vale Transporte por uma contribuição exclusiva das empresas, para todos os funcionários. Micro e pequenas empresas ficam isentas, mas seus funcionários terão direito ao benefício. Com o valor de 220 reais por empregado por mês, será possível arrecadar 100 bilhões de reais por ano, o suficiente para financiar todo o sistema de transporte no país, já considerando o aumento da demanda. 

A proposta é similar ao Versement Transport, política que existe na França há mais de cinquenta anos. Não é por acaso que o transporte público francês é de qualidade: o governo estruturou uma fonte de recursos robusta e estável, que garante a melhoria contínua dos serviços.

A implementação da proposta demanda a criação de uma contribuição, por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição. Aí vem a segunda boa notícia: essa PEC já existe, já recolheu o número de assinaturas necessárias e começou a tramitar no Congresso. Trata-se da PEC 25, de autoria da deputada Luiza Erundina (Psol-SP). Além de criar fontes de financiamento, a PEC estrutura um sistema distribuído entre os entes federativos de gestão e responsabilidades com o transporte público.

O caminho até a aprovação, a regulamentação e a aplicação da PEC 25 é de médio prazo. Mas há uma alternativa de curto prazo à vista, o que é a terceira boa notícia para o governo federal. Trata-se do Marco Legal do Transporte Público (PL 3278/21), que já foi aprovado no Senado e tramita em regime de urgência na Câmara. 

O Marco Legal regulamenta a concessão do transporte público urbano, oferecendo padrões de contratação das empresas privadas, e dando diretrizes para maior transparência e controle social. Além disso, a lei dá mais segurança jurídica para a implantação de taxas municipais para o financiamento dos sistemas, como as que estão sendo propostas em cidades como Belo Horizonte, Juiz de Fora e Brasília. Se for aprovado, ficará mais fácil a implementação de projetos de Lei de Tarifa Zero nas cidades, já que as prefeituras terão mais alternativas para o financiamento. 

O governo federal tem uma oportunidade única com essas duas proposições legislativas. A aprovação do Marco Legal ainda este ano pode dar um novo impulso a cidades com Tarifa Zero no Brasil. O avanço da PEC 25 pode estruturar, nos próximos anos, um sistema de transporte público robusto e de alta qualidade. O Brasil tem uma chance histórica de promover uma transformação profunda em uma área que foi historicamente relegada no país – a mobilidade urbana. O resultado vai ser melhoria de vida da população, redução da pobreza e benefícios ao meio ambiente.



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Data original de publicação: 22 de setembro de 2025

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