Choque de gestão: mesmo em regiões onde Romeu Zema obteve vitória avassaladora nas eleições de 2022, as suas propostas para a Universidade Estadual de Minas Gerais pegaram mal CRÉDITO: ALLAN SIEBER_2025

Os planos de Zema para se livrar da UEMG



Por edição piauí



Governador quer transferir para União complexo universitário que atende 22 mil alunos – ou privatizar seus imóveis, se o plano não der certo





Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) está à beira de uma catástrofe. O orçamento de 444 milhões de reais por ano da instituição – que atende 22 195 estudantes em 19 cidades – é menos de um décimo daquele destinado pelo estado de São Paulo à Universidade Estadual Paulista. A Unesp tem 4,69 bilhões de reais neste ano para atender cerca de 38 mil alunos distribuídos em 24 cidades.

Os salários pagos aos professores na UEMG são tão baixos que garantem à instituição a infame posição de universidade pública com o segundo pior salário no país, atrás apenas da jovem Universidade do Distrito Federal (instituída em 2021). Um professor com doutorado sem gratificação por desempenho recebe 4 584 reais na UEMG. (Na Unesp, o salário é 6 818 reais.)

“As fendas das nossas cabeças estão se abrindo, estamos caindo aos pedaços, à beira de um colapso”, diz o professor e artista multimídia Marco Paulo Rolla, que dá aulas na Escola Guignard, a famosa divisão da UEMG em Belo Horizonte dedicada às artes visuais. As fendas e ruínas a que o professor se refere não são apenas metáfora das condições de vida dos professores, relata Leandro Aguiar na edição deste mês da piauí. Também dizem respeito à situação concreta do próprio estabelecimento onde ele dá aulas. Sua sede atual está em condição de semiabandono. “No prédio, há várias estruturas se abrindo, infiltrações e riscos na parte elétrica. Se isso se arrastar por mais tempo, vai virar calamidade”, avisa a artista plástica Claudia Renault, que desde os anos 1980 leciona na Guignard.

Os problemas da UEMG se espalham por toda Minas Gerais. A unidade de Leopoldina, na Zona da Mata mineira, funciona nas dependências de uma escola pública estadual, que cedeu salas para os dois cursos de graduação oferecidos: administração e pedagogia. Algumas dessas salas não têm nem janelas. Como no verão a temperatura ultrapassa os 30ºC, os alunos levam os próprios ventiladores. Nos banheiros, é frequente faltar papel higiênico. São os professores que, de tempos em tempos, compram alguns rolos com o próprio dinheiro.

A UEMG de Ibirité, município na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não tem sede própria, e utiliza carteiras escolares quebradas, trazidas de outras unidades do estado. Na UEMG de Ubá, na Zona da Mata, não há faxineiros e jardineiros, funções supridas de vez em quando por funcionários cedidos pela prefeitura. Como eles nem sempre estão disponíveis, um matagal se avoluma no pátio da universidade. Os banheiros, muitas vezes, ficam sem limpeza.

O que está ocorrendo com a UEMG é um bom exemplo do que disse o filósofo americano Noam Chomsky na palestra The State-corporate complex: a threat to freedom and survival (O complexo Estado-empresa: uma ameaça à liberdade e à sobrevivência): “Essa é a técnica padrão: corte o dinheiro, certifique-se de que as coisas não funcionam, de que as pessoas fiquem zangadas, e então entregue ao capital privado.”

Parece ser esse, exatamente, o plano do governador Romeu Zema para a universidade estadual. No dia 8 de maio deste ano, ele apresentou à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) os projetos de lei relativos à adesão de Minas Gerais ao programa proposto pelo governo federal para facilitar a quitação das dívidas dos estados. Minas é o terceiro maior devedor da União (atrás de São Paulo e do Rio de Janeiro), com um débito estimado em cerca de 170 bilhões de reais.

Dois dos projetos de Zema diziam respeito à UEMG. O governador traçou dois caminhos para a universidade estadual, que levam a um só lugar: se desvencilhar dela.

 O primeiro desses projetos de lei (PL 3738/2025) autoriza o governo a transferir a gestão e os bens da UEMG para a União, como parte do pagamento da dívida do estado. Com o outro (PL 3733/2025), propõe transferir para a União mais de trezentos imóveis, entre os quais estão incluídas propriedades da UEMG e parte dos campi da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Se a União declinar a oferta, o governo de Minas poderia vender os imóveis à iniciativa privada com descontos de até 45%, determina o projeto de lei.

A notícia da proposta de Zema se espalhou pelo estado – junto com o sentimento de indignação. Várias câmaras municipais, não só de cidades que possuem unidades da UEMG, mas de municípios vizinhos, aprovaram moções de repúdio aos projetos de lei do governador. Mesmo em regiões onde Zema obteve vitória avassaladora nas eleições de 2022, suas propostas para a UEMG pegaram mal.

A decisão está agora nas mãos dos deputados estaduais de Minas, que devem decidir se autorizarão o governo Zema a dispor da gestão e do patrimônio da UEMG com o objetivo de pagar parte da dívida mineira com a União.

Assinantes da revista piauí podem ler a íntegra da reportagem neste link.



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Data original de publicação: 10 de outubro de 2025

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