21º Congresso Brasileiro de Sociologia – Sociologias para pensar o contemporâneo

Imagem: Divulgação

De 11 a 14/07/2023 | Por Sociedade Brasileira de Sociologia

A tradição epistemológica de construção da sociologia comporta momentos relevantes de um processo amplo de observação sobre a constituição da vida social. Movimentos teóricos nos conduzem a pensar em sociologias, no plural, e abrir novas possibilidades de entendimento a partir de lugares periféricos e semiperiféricos do sistema-mundo. Busca de rupturas no pensar onde predomina uma única maneira de ler a realidade e a modernidade. Talvez a partir da Amazônia se possa fabricar um campo experimental do saber crítico mundial, um conhecimento reconstruído a partir da experiência, dos dilemas estruturais, de fronteiras do conhecimento, da complexidade que impõe um diálogo incessante com outras ciências, da perspectiva do pluralismo teórico, de metodologias inovadoras e rigorosas, do compromisso com a lógica da criação e da descoberta científica e da reflexão sobre  descentramentos e reconhecimento da diversidade cognitiva do mundo, a partir de nossas realidades sociais profundas. Pensar o contemporâneo como movimento é desafio permanente ao entendimento, para além do tempo presente. Busca de rupturas no pensar em que existe uma única maneira de ler a realidade e a modernidade.

Sociologias e interconhecimento na perspectiva de que ressoem vozes silenciadas, invibilizadas e vencidas, tanto do ponto de vista de quem teoriza e elabora, quanto de quem sofre a violência das desigualdades sociais. Sem renunciar às tradições teóricas já estabelecidas, queremos que se façam também ouvir as vozes amazônicas, indígenas, negras, de pessoas LGBTQIA+, de mulheres. Queremos que as experiências sociais sejam pensadas a contrapelo, sob o signo da reflexão e das memórias daquelas(es) que foram ou seguem sendo vencidas(os) pelos poderes sociais hegemônicos. Nas discussões, também esperamos que sejam contempladas abordagens teórico-metodológicas plurais, refletindo a miríade de possibilidades que nossa disciplina apresenta para pensar o mundo e engajar-se por ele.

Essa pluralidade é necessária, pois o contemporâneo se apresenta sob o signo de gigantescos desafios, retrocessos, mas também de resistências e potencialidades. Os últimos anos foram marcados pela pandemia, que, de um lado, cunharam nossas existências com perdas, lutos, sofrimentos; de outro, com laços de solidariedades e de cuidado. As Sociologias se apresentaram com explicações para a compreensão dessas experiências sob o signo de marcadores de classe, raça, gênero, região, geração, mas também de maneira atravessada por esferas políticas, econômicas, religiosas, afetivas entre outras. 

Quando pensamos no contemporâneo, é impossível deixar de mencionar as forças profundamente regressivas que os radicalismos de direita, suas ideologias autoritárias e seus negacionismos representam. A crise das democracias contemporâneas aparece de maneira entrelaçada a outros fenômenos complexos que permeiam nossas formas sociais. Entre eles, o capitalismo neoliberal e sua lógica de exploração que têm moldado subjetividades e promovido uma escalada da crise entre produção e reprodução social, entre capital e o cuidado. Outro fenômeno da maior relevância no mundo contemporâneo relaciona-se à forma como boa parte da nossa sociabilidade tem sido transferida para plataformas digitais, desencandeando mudanças disruptivas. Novas formas de organização e controle do trabalho, de estabelecimento de relações amorosas, de participação política são moldados pelos algoritmos, sobre os quais ainda não temos pleno conhecimento acerca do seu poder sobre a vida social.

A velocidade como a técnica avança sobre nossas interações sociais também vem permeada por uma relação desarmoniosa com a natureza e com as populações originárias. A realização deste Congresso na Amazônia, desta vez de forma presencial, é uma oportunidade para aprendermos com modos de vidas e cosmologias de comunidades capazes de estabelecer uma interação mais reconciliada com rios, plantas, solo, animais, atmosfera. Nossa contribuição deve ser relevante como forma de frear a violência, o genocídio, o desmatamento e a indiferença que nos ameaçam em tempos de capitalismo neoliberal e autoritário e que, nos últimos anos, apresentam o risco real de inviabilização da existência humana.

De todo modo, o contemporâneo também é palco de resistências, de novas formas de organização social, de fazeres coletivos em busca de superar nossas contradições. Além disso, pensar o contemporâneo também implica inquirir os caminhos históricos que nos tornaram o que somos hoje, como sociedade. Como organizar reflexões que possam contribuir com a explicação de fenômenos ainda não tão nitidamente delineados? Como interpretar a reverberação desses fenômenos em processos objetivos e subjetivos em suas interações constantes? Como perscrutar as tendências sociais ainda em formação e encontrar formas de mobilizá-las ou enfrentá-las em função de transformações emancipatórias?

As respostas a tais questões trazem o imperativo de pensar de maneira plural. O verbo pensar no nosso tema de congresso não tem as pretensões ultraconfiantes e paradoxais de uma razão inconsciente de seus limites e de viés colonizador. Trata-se, antes, da tarefa de colocar as Sociologias em modo autovigilante, capaz de diagnosticar as fissuras presentes no tecido social e manter-se alerta em relação aos perigos e potencialidades de nossas práticas sociais. 

Que em nosso 21º. Congresso, sob o calor da cidade de Belém do Pará, metrópole da exuberante Amazônia, floresçam reflexões sociológicas críticas em suas potências transformadoras e emancipatórias!

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Fonte: Sociedade Brasileira de Sociologia

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