‘Escravos de ganho’: dependentes químicos entregavam mais da metade do dinheiro que ganhavam a pastor de igreja

Foto: Pexels

Por Henrique Coelho | G1

Pastor da igreja Alcance Vitória, responsável pela Casa de Reabilitação, foi autuado por trabalho análogo à escravidão. Termo ‘escravos de ganho’ é usado quando as vítimas são obrigadas a realizar serviços fora da casa onde moram e entregar o dinheiro que ganham, ficando apenas com uma pequena parte

Dependentes químicos acolhidos em uma casa de reabilitação ligada a uma igreja evangélica foram obrigados a trabalhar em diferentes estabelecimentos de bairros da Zona Oeste do Rio, diz uma investigação envolvendo vários órgãos.

Segundo informações colhidas durante uma fiscalização da Superintendência do Trabalho no Rio, Polícia Federal e Ministério Público do Trabalho, mais da metade do valor que as vítimas recebiam pelo trabalho era dividido com o pastor da igreja Alcance Vitória ou ofertado em dízimo à instituição religiosa, que fica em Paciência.

Segundo um documento da superintendência, os sete resgatados eram “escravos de ganho”: quando as vítimas são obrigadas a realizar serviços fora da casa onde moram e entregar o dinheiro que ganham, ficando apenas com uma pequena parte.

Muitas vezes, em vez de um dinheiro, os trabalhadores recebiam tinta para pintura das casas onde moravam, ou carne e salsicha para comer. Eles ainda eram obrigados a frequentar os cultos da igreja.

Os trabalhadores foram resgatados em agosto deste ano do sítio que pertence ao Ministério, em Cosmos, bairro vizinho. O g1 acompanha o caso desde então.

A região é dominada por milicianos, que foram até o local, segundo denúncias, para saber mais a respeito da fiscalização. No momento do trabalho dos auditores fiscais, havia escolta da Polícia Federal, o que inibiu a ação dos criminosos. Homens armados já foram vistos no sítio.

Jackson de Sobral Almeida, pastor responsável pela igreja Alcance Vitória, em Paciência, foi autuado por trabalho análogo à escravidão. O g1 procurou o pastor, mas não obteve resposta até o momento.

Trabalhadores eram obrigados a frequentar cultos e dividir remuneração com o pastor da igreja — Foto: Reprodução

Trabalhadores eram obrigados a frequentar cultos e dividir remuneração com o pastor da igreja — Foto: Reprodução

O resgate foi realizado por auditores-fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, uma procuradora do Ministério Público do Trabalho e policiais federais da Delegacia de Defesa Institucional.

Site da igreja internacional Victory Outreach mostra endereço de sítio e nome do pastor Jackson Sobral — Foto: Reprodução

Site da igreja internacional Victory Outreach mostra endereço de sítio e nome do pastor Jackson Sobral — Foto: Reprodução

A igreja Alcance Vitória é ligada à Victory Outreach Church, que tem igrejas em várias cidades do mundo. No site da igreja, aparecem tanto o endereço em Paciência quanto o endereço do sítio da casa de reabilitação, na rua das Amoreiras, em Cosmos. Em destaque, está o nome do pastor Jackson Sobral.

Mão de obra a preço irrisório

De acordo com a fiscalização e os depoimentos dos trabalhadores, o pastor mantinha a casa de apoio com o nome da igreja e era fornecedor de mão de obra a estabelecimentos da região.

Os sete resgatados trabalhavam sem registro formal e dividiam metade do valor do salário com o pastor. Além disso, ainda eram obrigados a ofertar um dízimo de 10% no valor que teriam direito.

Os locais de trabalho eram três mercados em diferentes partes da Zona Oeste, além de um Sacolão em Paciência e uma fábrica de suco de laranja.

Em depoimento, um trabalhador contou aos auditores fiscais que recebia R$50 por dia de trabalho, mas que o dinheiro era liberado por um monitor apenas no dia designado para fazer compras de itens básicos.

Ele conta que um dos serviços que realizava era de lixar treliças, sem nenhum tipo de equipamento de proteção e que inalava os resíduos do processo.

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Fonte: G1

Data original de publicação: 26/10/2023

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